No Brasil, um dos países onde mais se matam pessoas LGBTQIA+ no mundo ―com uma estimativa de uma vítima da homofobia a cada 23 horas―, 60% dos eleitores afirmam que votariam em um candidato assumidamente gay para a presidência da República. É o que diz o resultado da pesquisa Impacto da orientação sexual dos candidatos sobre a intenção de voto ― Posicionamento político do eleitorado LGBT, realizada pelo Instituto Atlas e divulgada com exclusividade pelo EL PAÍS nesta quarta-feira.
O dado surpreende também tendo em vista que o Planalto atualmente é ocupado por Jair Bolsonaro, um mandatário que se notabilizou por uma série de comentários homofóbicos ao longo da carreira política. Para 24% dos entrevistados, no entanto, votar em um candidato homossexual ainda é algo impensável, e 17% disseram não saber se votariam ou não. Foram ouvidas 2.884 pessoas entre os dias 26 e 29 de julho. O estudo tem margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Atualmente no Brasil poucos chefes dos Executivos municipais ou estaduais se declaram como sendo LGBTQIA+. Recentemente, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), se assumiu gay. O tucano recebeu apoio no meio político, mas foi criticado por ter apoiado Bolsonaro no segundo turno das eleições em 2018. Na ocasião do posicionamento de Leite sobre sua homossexualidade, o ex-deputado Jean Wyllys lembrou que a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), também é homossexual e mencionou a luta da petista contra a homofobia. Ela, por sua vez, manifestou apoio ao gesto do tucano: “Na minha vida pública ou privada nunca existiram armários. Sempre demarquei minhas posições através da minha atuação política, sem jamais me omitir na luta contra o machismo, o racismo, a LGBTfobia e qualquer outro tipo de opressão”, escreveu em suas redes sociais.
No restante da América do Sul existem ao menos dois chefes do Executivo homossexuais: Claudia López Hernández, prefeita de Bogotá, na Colômbia, e Gustavo Melella, governador da província de Tierra del Fuego, na Argentina. Na Europa a presença de pessoas abertamente LGBTQIA+ nos Governos é mais comum: Bélgica, Irlanda, Finlândia, Luxemburgo e Sérvia já tiveram primeiros-ministros gays e lésbicas. Por outro lado, o continente europeu vê com preocupação o avanço de propostas de lei homofóbicas na Hungria do ultradireitista Viktor Órban, sobre as quais vários líderes da UE já se posicionaram contra.
Com relação ao apoio a políticos LGBTQIA+, a pesquisa do Instituto Atlas aponta que as mulheres se mostram mais progressistas: na segmentação por gênero, 69% delas afirmaram que votariam em um candidato homossexual, ante 50% entre os homens. Apenas 19% das entrevistadas afirmaram que não escolheriam um candidato abertamente gay, que teria também a rejeição de 29% dos homens ouvidos pelo levantamento.
Fonte: El País