Em dezembro, uma campanha instituída por lei adota a cor vermelha no mês para marcar a mobilização nacional na luta contra o HIV e de atenção a este vírus, que pode causar aids. Com notoriedade marcada nos anos 1980 no início da epidemia da doença, muitos preconceitos e estigmas estiveram associados ao vírus, mas avanços científicos continuam a prolongar a vida dos infectados e proteger populações consideradas vulneráveis. Um dos mais significativos métodos em discussão no mundo é o desenvolvimento das Profilaxias Pré-Exposição (PrEP), medicamentos que têm demonstrado ser eficazes para prevenir o contágio.
Em artigo publicado na The New England Journal of Medicine, pesquisadores avaliaram a eficácia do lenacapavir, tipo de PrEP administrada semestralmente por via subcutânea, na prevenção do HIV entre homens cisgêneros que fazem sexo com outros homens, mulheres transgênero, homens transgênero e pessoas não-binárias. Realizado em 92 locais em sete países, incluindo Brasil, EUA e África do Sul, o ensaio clínico randomizado comparou o lenacapavir ao uso diário de entricitabina e fumarato de tenofovir disoproxil (F/TDF), tipo de PrEP diária disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre os 3.265 participantes incluídos na análise, a incidência de infecção foi significativamente menor no grupo do lenacapavir, com apenas dois casos registrados, em comparação a nove no grupo F/TDF. O infectologista Ricardo Vasconcelos, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coautor do estudo, explica que o “uso do lenacapavir a cada seis meses é mais prático do que tomar um comprimido diariamente, e comprovamos sua segurança sem eventos adversos graves”. O único efeito colateral notado foi a formação de um nódulo no local da injeção que retém a profilaxia para liberá-la ao longo dos meses.
Atestar a segurança e a eficácia dessa nova opção de PrEP é um importante passo na proteção contra o HIV. Ricardo Vasconcelos, que também se envolveu nos estudos da PrEP bimestral, o medicamento intramuscular cabotegravir, conta que apesar dos avanços a disponibilização no sistema público de saúde demanda tempo para a aprovação da Anvisa e início das ações comerciais. Ele diz que a versão bimestral da PrEP teve os últimos ensaios clínicos em 2020, mas a disponibilização do medicamento no SUS continua em negociação.