Uma tese de doutorado, quatro artigos para revistas científicas e novas informações sobre a influência de fatores biológicos e ambientais no desenvolvimento das psicoses. Esses são alguns resultados do trabalho desenvolvido por Fabiana Corsi Zuelli na Faculdade de Medicina da USP (FMRP) em Ribeirão Preto.
Sob orientação de Cristina Marta Dal Ben, também da FMRP, Fabiana buscou investigar como a inflamação e os fatores ambientais poderiam ajudar na identificação de indivíduos com maior vulnerabilidade biológica para psicoses. E, a partir desta compreensão, pensar em estratégias de prevenção e tratamentos mais individualizados.
Um dos estudos mostrou que o uso diário de maconha, ou durante a adolescência, está associado ao aumento do risco de desenvolver psicose. “Nós vimos que parte desses indivíduos se encontravam em um estado que a gente chama de inflamatório de baixo grau”, explica Fabiana. “Não chega a ser uma inflamação vista em doenças autoimunes ou inflamatórias, mas é um estado que pode gerar, sim, alterações nessa neuroquímica do cérebro.”
Um outro braço do trabalho mostrou que indivíduos com histórico de maus tratos na infância também tinham esse perfil inflamatório quando comparado àqueles que não passaram por eventos traumáticos na infância. A pesquisadora utilizou uma amostra de pacientes controle e irmãos de pacientes com transtorno, ambos pareados por idade e sexo.
Estudos anteriores já haviam destacado uma associação entre inflamação e esquizofrenia, bem como de outros transtornos psicóticos. Além disso, fatores de risco modificáveis, como o consumo de maconha e maus tratos na infância, têm sido associados a um aumento do risco de psicoses. Contudo, os mecanismos associados ainda eram desconhecidos.
“O grande diferencial do trabalho da Fabiana é que ela não focou só na descrição da associação entre inflamação e psicose, mas procurou, dentro do possível, tentar entender os mecanismos de doença”, explica Cristina.