[VÍDEO] Ao humilhar Thabatta, vereador Eliabe atinge todas as vítimas da Covid-19

A política, quando divorciada da empatia, revela seu pior aspecto: a capacidade de transformar dor em arma, luto em piada e vidas perdidas em mero detalhe ideológico. Foi isso o que testemunhamos na Câmara Municipal de Natal, onde o vereador Subtenente Eliabe (PL) não apenas desdenhou da morte da mãe da vereadora Thabatta Pimenta (PSOL), vítima da COVID-19, como reduziu uma tragédia coletiva a um “detalhe” partidário.

A cena é grotesca: enquanto Thabatta, com a dignidade de quem sobreviveu ao luto em meio ao caos da pandemia, justificava seu voto contra a homenagem a Jair Bolsonaro — um ex-presidente cuja gestão desastrada acelerou a morte de milhares —, Eliabe riu. Riu da dor de uma filha que perdeu a mãe. Riu das mais de 700 mil vidas brasileiras apagadas pela COVID-19, muitas delas por negligência, desdém às medidas sanitárias e promoção de tratamentos ineficazes pelo governo federal. Riu, em suma, daquilo que Bolsonaro chamou de “fantasia”: o vírus que matou.

A postura do vereador não é um deslize, mas um sintoma. Sintoma de uma política que idolatra figuras como Bolsonaro, cujo legado pandêmico inclui frases como “E daí?” diante de mortes, boicote a vacinas e incentivo a aglomerações. Sintoma de quem normaliza a barbárie — afinal, quantas mães, avós, trabalhadores e pobres precisariam morrer para que essa homenagem fosse considerada indecente? Para Eliabe e seus pares, nenhum número é alto o suficiente quando a ideologia está em jogo.

O deboche de Eliabe revela ainda outra face perversa do bolsonarismo: a militarização da insensibilidade. Usar fardas ou títulos de “herói” não confere honorabilidade a quem ri da morte alheia. Pelo contrário: expõe a contradição de quem diz defender a “lei e a ordem”, mas pisa sobre o direito mais básico dos cidadãos — o de viver. Thabatta, ao lembrar sua mãe, fez mais pela democracia do que todos os vereadores que, ao assinar essa homenagem, cuspem no túmulo das vítimas da pandemia.

Natal não precisa batizar como “cidadão honorário” um homem que desonrou a vida. Precisa, sim, de representantes que lembrem os nomes dos que partiram — não como estatística, mas como razão para governar com humanidade. Aos que ainda aplaudem Bolsonaro e seus seguidores, cabe uma pergunta: quantas gargalhadas cabem em 700 mil caixões?

— Por um Brasil que não esquece, nem perdoa a crueldade.