Na última terça-feira (6), cinco médicos passaram mal após um jantar em um restaurante de alto padrão em Natal, apresentando sintomas intensos de intoxicação alimentar. Dois deles seguem internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em estado estável e sob monitoramento. A causa foi identificada como intoxicação por ciguatera, uma toxina natural presente em peixes de recife, como dourado, garoupa e badejo.
A ciguatera é uma toxina produzida por microalgas marinhas que se acumulam na cadeia alimentar até atingir grandes peixes predadores. Ela não tem cheiro, sabor ou cor e resiste ao cozimento, tornando-se uma ameaça silenciosa para quem consome esses peixes. Os sintomas incluem dores abdominais, náuseas, vômitos, diarreia, sensação de calor como frio (disestesia térmica), cãibras e até complicações neurológicas.
O caso gerou mobilização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Vigilância Sanitária, que coletaram amostras do peixe servido e acompanham a investigação. Contudo, mesmo com a gravidade do episódio, o nome do restaurante onde o incidente ocorreu não foi divulgado na maior parte da imprensa.
Por que o silêncio?
O que justifica esse silêncio? Ao omitir o nome do restaurante, a imprensa adota uma postura de cautela, muitas vezes para evitar prejuízos indevidos a um estabelecimento que pode não ter responsabilidade direta pelo ocorrido. No caso da ciguatera, a intoxicação não resulta de falhas no preparo ou na conservação do peixe, mas sim de uma toxina natural que afeta algumas espécies.
Por outro lado, há um aspecto fundamental que não pode ser ignorado: o direito à informação e a transparência. Os consumidores têm o direito de saber onde ocorreu o problema, especialmente em casos que afetam a saúde pública. E esse direito não é absoluto apenas quando há culpa comprovada, mas também quando há risco potencial.
O restaurante é o Marechal
O Blog Antenado apurou que o restaurante onde ocorreu o episódio é o Marechal, um estabelecimento conhecido em Natal. A decisão de divulgar o nome não pode se basear em uma intenção de prejudicar o restaurante, mas em garantir que os consumidores possam tomar decisões informadas.
É preciso deixar claro que a presença da toxina ciguatera não é resultado de falhas do restaurante, mas de uma contaminação natural presente no peixe. No entanto, o consumo de peixes como o dourado, que são mais propensos a conter a toxina, merece atenção, especialmente em uma região onde os casos têm sido registrados com maior frequência, como apontou a Secretaria de Estado da Saúde Pública (SESAP).
Responsabilidade e transparência
Ao optar por não divulgar o nome do restaurante, parte da imprensa pode ter buscado evitar danos reputacionais sem provas conclusivas. No entanto, esse silêncio cria um ambiente de especulação e prejudica outros estabelecimentos que podem ser injustamente associados ao caso. Em situações que afetam a saúde pública, a transparência deve ser a regra.
Não se trata de apontar culpados antes do fim da investigação, mas de garantir que o público tenha acesso a informações essenciais para proteger sua saúde. Afinal, enquanto não houver uma orientação clara das autoridades sobre o consumo seguro de peixes como o dourado, a decisão mais prudente é que os consumidores sejam informados e possam fazer escolhas conscientes.
O caso dos médicos intoxicados é um alerta para a importância de uma comunicação clara e responsável, que não ceda ao sensacionalismo, mas também não omita informações que são de interesse público.
E como destacou uma experiente voz do jornalismo em uma conversa informal: “Temos o direito de saber. Afinal, o Dia das Mães está chegando, e devemos ter o direito de escolher não ir a um local ou, principalmente, não pedir peixe para não correr o risco de parar em uma UTI.” Acho justo também.