Lucas sai maior do BBB 21 ao rejeitar o espetáculo baseado na desumanização. Dizer um basta para preservar a própria humanidade não é ato de fraqueza, mas de monstruosa coragem. O primeiro beijo entre dois homens, Lucas e Gil, em um dos programas de maior audiência da televisão brasileira deveria ser motivo apenas e tão somente de celebração. Depois de 20 edições e incontáveis beijos heterossexuais, finalmente dois LGBTs apareceram demonstrando afeto e carinho nas telas. Não é preciso ser fã do programa para compreender a relevância de um acontecimento inédito dessa natureza. A visibilidade e a representatividade encerradas naquilo que seria um singelo beijo entre homens negros tornam-se ainda mais potentes considerando o recrudescimento do racismo e da LGBTfobia no país. No entanto, o beijo acabou deixando um gosto amargo na boca.
Após dias de incontáveis e flagrantes violências, Lucas anunciou sua saída antecipada da casa. […] Ainda que se trate de um jogo que opera nos limites da integridade psíquica das pessoas ali confinadas, a proteção da dignidade humana é dever a ser observado por todos. Não só pelo Estado, mas também pelos particulares. Há, neste caso, uma inegável dimensão ética, mas também jurídica. O tipo de constrangimento praticado, com ampla repercussão pública e provas abundantes, recomenda medidas de reparação. Felizmente, a realidade é mais do que a casa do BBB. O acolhimento que Lucas não encontrou lá dentro, ele terá mais chance de encontrar aqui fora. Ele saiu maior ao rejeitar a lógica do espetáculo baseada na desumanização. Dizer um basta para preservar a própria humanidade não é ato de fraqueza, mas de monstruosa coragem.
Fonte: Folha de S. Paulo