A pesquisa científica transforma a sociedade e é a base para o progresso humano. Por meio dela Nicolau Copérnico concluiu que a terra gira em torno do sol, Benjamin Franklin descobriu a eletricidade e, no século XVIII, Edward Jenner criou a primeira vacina da humanidade. A partir dessas descobertas diversas doenças foram erradicadas, medicamentos desenvolvidos e o mundo modernizado.
Cada avanço da humanidade significa um passo dado por pesquisadores com o afinco em descobrir melhorias para o funcionamento da sociedade no campo científico, cultural e tecnológico. Pensando nisso, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realizam parceria com pesquisadores da Universidade Autônoma de Madri (UAM) em prol da pesquisa científica.
Por meio de divulgações na internet, o trabalho realizado no Centro de Biociências (CB/UFRN) ultrapassou as fronteiras do Brasil e chegou à Espanha. Professor da Universidade Autônoma de Madri (UAM), Francisco Clascá se interessou pelo estudo do Sagui (Callithrix jacchus) realizado no CB e quis promover a internacionalização do estudo, desenvolvendo-o não só na UFRN, mas também na UAM.
O estudo em questão tratava-se da Caracterização anatômica de áreas neurais do encéfalo do sagui, publicado em periódicos internacionais. Já a parceria entre as universidades busca mapear vias córtico-talâmicas no encéfalo do Sagui. Por ser um primata de pequeno porte e ter semelhança relativa ao cérebro humano, o Sagui é um modelo experimental muito utilizado no mundo todo em pesquisas biológicas e biomédicas.
Esse projeto é liderado pelos professores Jeferson de Souza Cavalcante, do Departamento de Fisiologia e Comportamento da UFRN, Expedito Nascimento Junior, do Departamento de Morfologia da UFRN, e Francisco Clascá, da Universidad Autónoma de Madrid (UAM). Tendo contribuição significativa dos pesquisadores Paulo Morais, Melquisedeque Abiare, Ruthnaldo Lima e Felipe Fiuza, membros da comunidade acadêmica da UFRN à época do início da colaboração.
Entre os anos de 2011 e 2013, o projeto foi submetido ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), resultando em dois estágios de pós-doc na UAM que foram fundamentais para o grupo e para os Programas de Pós-Graduação da UFRN: Biologia Estrutural e Psicobiologia, pois formou recursos humanos para desempenhar cirurgias nos encéfalos dos animais experimentais em Natal.
“Quando o projeto surge através do CNPq, ele vem para fortalecimento científico certamente, mas também por meio da formação de pessoas. Nós tivemos ao longo do tempo a ida de alunos para realização de doutorado sanduíche, foram três doutorados realizados na UAM. Esses projetos foram executados lá e uma parte aqui na UFRN. Veja a importância desse processo de internacionalização das nossas pós-graduações”, relata o professor Expedito Nascimento, afirmando que a internacionalização foi um fator importante para o ensino da UFRN, visto que a UAM é referência mundial em pesquisa, principalmente na área de neuroanatomia e neurofisiologia.
Já em 2014, houve mais uma aprovação de financiamento pelo CNPq, dessa vez mais substancial em termos financeiros e de integração entre Brasil e Espanha. O edital PVE-2014 do CNPq investia mais de meio milhão de reais no projeto Substrato celular da sincronização funcional em múltiplas áreas corticais: Análise de alta resolução dos circuitos tálamo-corticais em primatas.
De forma prática, a pesquisa é um mapeamento neural das vias do córtex-tálamo- córtex do encéfalo do sagui. Os pesquisadores injetam uma substância traçadora no cérebro do animal na localização do tálamo e os neurônios captam essas substâncias e mandam para suas projeções que são os terminais corticais.
“Nós mapeamos a circuitaria neuronal desse primata, pois a estrutura cerebral dos primatas tem muita semelhança com a do humano. Nossos resultados vão servir de referência e vão mostrar como essas regiões do cérebro são dispostas. Além disso, os dados obtidos podem servir para futuros estudos morfológicos e funcionais do córtex cerebral”, explica o professor Jeferson.
Ainda segundo o professor, esse estudo é a fundamentação para modelos computacionais de função cortical, neuropsicologia cognitiva e da própria neurologia. Logo, entender como é a anatomia dessas vias cerebrais é importante para analisar a função do cérebro e expandir para a ciência aplicada à neurologia e à neuropsicologia cognitiva. Patologias como depressão e ansiedade são doenças cognitivas que precisam desse mapeamento para saber como está disposto no encéfalo do ser humano.
Devido a esse projeto e aos investimentos, a UFRN passou a ter uma sala cirúrgica para primatas com todos os equipamentos necessários para monitoramento cirúrgico e proporcionou doutorados sanduíche e visitas na Espanha. Além disso, o professor Francisco Clascá e outros pesquisadores estiveram no Brasil e ministraram disciplinas para os programas de pós-graduação, bem como palestras e cursos que contribuíram significativamente para a formação dos alunos da UFRN.
“Esse período foi de bastante interação entre pesquisadores tanto de dentro como de fora do país, inclusive com grupos da Universidade Federal do Rio de Janeiro”, afirma o professor Jeferson de Souza. Essa troca de conhecimentos e de visitações também propiciou a modernização do laboratório de morfologia da UFRN, assim como a capacitação de cirurgiões por meio de cursos que foram oferecidos nesse período.
A UFRN implementou o Programa de Doação de Corpos devido à influência da Universidade Autónoma de Madrid. O Laboratório de Anatomia Aplicada da UAM promove estudos de anatomia por meio de práticas anatômicas em cadáveres humanos doados e é uma referência mundial na área.
O Substrato celular da sincronização funcional em múltiplas áreas corticais: Análise de alta resolução dos circuitos tálamo-corticais em primatas rendeu quatro artigos em periódicos internacionais, como as revistas Frontiers in Neuroanatomy e Journal Comparative Neurology, que impactaram na internacionalização dos programas de pós-graduação em Biologia Estrutural e pós-graduação em Psicobiologia da UFRN, sendo este último, conceito 6 pela CAPES.
“Depois de 5 anos, o projeto junto com o CNPq foi encerrado, mas a parceria ainda permaneceu. Agora buscamos estudar as conexões tálamo/corticais/tálamo do encéfalo do Sagui no nosso laboratório com o know how adquirido no projeto, mas continuamos a colaboração com o professor Francisco, pois ainda temos muitos resultados para publicar”, conta Jeferson Cavalcante.
Segundo o professor, o mapeamento neuroanatômico do encéfalo do sagui é um tema muito importante para a literatura especializada. Na UFRN há o Núcleo de Primatologia que é referência na criação desse animal.
Sobre o sagui
Utilizado como objeto dessa pesquisa, os saguis (Callithrix jacchus) têm aproximadamente de 15 a 25 centímetros de comprimento e chegam a pesar por volta de 400 gramas, conforme a sua espécie. A principal característica que os define são os tufos de pelo branco junto às orelhas e o rabo listrado em preto e branco. Além dos olhos arregalados.
No Brasil, eles podem ser encontrados no Cerrado, na Mata Atlântica e na Caatinga, passando a maior parte do seu tempo em grupos familiares, no alto das árvores em busca de insetos, frutas, sementes, ovos e seiva de árvores, que são os alimentos preferidos desses primatas.
O mundo científico o valoriza como modelo experimental pois seu substrato neuroanatômico é próximo ao do ser humano, servindo de estudo de algumas patologias como doença de Parkinson, déficits de memória como o encontrado no mal de Alzheimer, depressão, ansiedade e entre outras doenças neurológicas. E ainda que o objetivo do projeto não tenha relação direta com isso, os resultados vão ajudar a pesquisas futuras de outros pesquisadores pelo mundo.
“Neste momento estamos propondo a criação de um grupo de pesquisa no estudo neuroanatômico do sagui para a PROPESQ/UFRN e que futuramente será incluído na plataforma do CNPq. A UFRN, através do Laboratório de Neuroanatomia (LABNEURO) e do Laboratório de Estudos Neuroquímicos (LENq), ambos do CB, já apresentam quase três décadas de experiência e de muitas publicações nessa área”, relata o professor Jeferson.
Fonte: UFRN