Crise climática pode transformar recifes brasileiros em “cidades-fantasma”

A intensificação do aquecimento global pode trazer graves prejuízos à vida marinha, que já enfrenta um clima bem alterado desde o século passado. Análise de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) mostra que metade da vida marinha em recifes tropicais do Atlântico Sul não vai mais existir até o final do século se o nível de emissão de gases estufa for mantido no patamar atual. As projeções estão publicadas na edição de quarta-feira, 18, da revista Ecosystems.

Durante sete anos, os pesquisadores do grupo liderado por Guilherme Longo, Leonardo Capitani e Ronaldo Angelini tentaram entender como o aumento de temperatura do planeta afeta diretamente animais marinhos, recifes e matéria orgânica. Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), divulgado na segunda-feira, 9, chegaremos ao limite de +1,5°C de aquecimento global em relação à era pré-industrial em 2030, dez anos antes do previsto, o que poderá trazer consequências também para a vida nos oceanos.

O sítio escolhido para o estudo foi o Atol das Rocas, primeira Reserva Biológica Marinha do país, localizada a 150 quilômetros de Fernando de Noronha. “Por ser uma área protegida, os recifes do Atol são um laboratório do que seria um ecossistema natural, com mínima interferência humana direta”, comenta Longo, coautor do estudo que contou com o apoio e monitoramento do Programa Ecológico de Longa Duração das Ilhas Oceânicas e da equipe da reserva biológica do Atol das Rocas. Os pesquisadores conseguiram criar um modelo matemático de cadeia alimentar dos recifes tropicais do Atlântico Sul, algo inédito para as pesquisas da área.

O modelo consegue comparar a biomassa de diversos organismos a cada ano, incluindo peixes, algas, corais e outros invertebrados, levando em consideração a eficiência daquele recife em circular energia e matéria. A projeção indica que, se o crescente nível de emissão de gases estufa na atmosfera for mantido da maneira que está, a sobrevivência de muitos animais entrará em colapso já em 2050.

“O aquecimento dos oceanos vai levar a uma diminuição drástica na diversidade marinha, isso porque a biomassa dos recifes vai transferir menos energia para o próximo animal da cadeia, as algas vão ter menos nutrientes e os peixes serão menos resistentes, diminuindo e fragilizando as espécies”, explica Leonardo Capitani. Longo complementa: “Os recifes correm o risco de se tornarem ‘cidades-fantasma’ no mar, totalmente sem vida”.

Para os pesquisadores, o estudo alerta para a crise climática, resultado da ação humana, e os impactos que ela terá sobre a atividade pesqueira e o turismo do litoral brasileiro, já que os recifes são reservas importantes de cardumes de peixes. Logo, destaca a importância de projetos de monitoramento de longo prazo de ecossistemas marinhos e do fortalecimento de unidades de conservação para reduzir impactos humanos locais. “Com isso, podemos preparar os recifes para impactos globais”, finaliza.

Fonte: UFRN