Nova tecnologia cria produto para aplicação farmacológica a partir do açaí

Para além do modismo que já teve um dia, o consumo do açaí transformou-se em um hábito de saúde — dentre algumas razões, sua alta concentração de antioxidantes e boas doses de fibras. A porção comestível do fruto tem como característica a abundância de componentes polifenólicos, moléculas existentes nas plantas com diversas comprovações a respeito de seus efeitos positivos à saúde. Os polifenóis são divididos em subclasses conforme a sua estrutura química, onde cada uma indica propriedades específicas. No açaí especificamente, há alguns componentes polifenólicos presentes em maior quantidade, como a orientina, a isoorientina e o ácido vanílico, bem como antocianinas cianidina-3-glucósido e cyanidin-3-rutinoside.

A presença destas substâncias confere ao fruto atividades antioxidantes, anti-inflamatórias e cardioprotetoras, e, sendo assim, é considerado também como alimento funcional, podendo promover diferentes ações no organismo vivo, sobretudo no homem, sendo mantenedor de sua saúde e auxiliando no desempenho de funções fisiológicas. A introdução a respeito destes aspectos “menos visíveis” do açaí é para mostrar parte do caminho e da motivação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para desenvolver uma nova tecnologia capaz de, a partir do processo de obtenção de sistemas binários do óleo essencial de açaí e cicloamiloses, criar um produto para aplicação farmacológica.

Ádley Antonini Neves de Lima, coordenador da pesquisa, identifica que o grupo de cientistas fez uma transformação do óleo para uma forma em pó, com a forma sólida facilitando sobremaneira a aplicação, por trazer uma maior estabilidade ao composto criado. “Pensamos nele para uso anti-inflamatório, antimicrobiano, antioxidante e anti-aging, com aplicação para as indústrias química, farmacêutica, cosmética e alimentícia”, complementou o docente do Departamento de Farmácia.

Ele explicou que ao encapsular o pó, obtém-se uma alternativa farmacológica para diversas formas farmacêuticas, promovendo o aumento da solubilidade e da estabilidade do óleo e, desse modo, viabilizando o efeito anti-inflamatório, antimicrobiano e antioxidante da matéria-prima. “A tecnologia foi pensada para maior comodidade da pessoa, seja no uso interno ou externo, com a possibilidade de ser administrado por via oral, mas também pela via tópica, intramuscular, intravenosa, intraperitoneal, subcutânea ou transdérmica. Falei em pessoas, mas é bom frisar que a utilização desse produto abrange o ramo veterinário também”, pontua Ádley.

O estudo contou com a participação das cientistas Thalita Magalhães, Pollyana Macedo, Elissa Ostrosky e Cibely Costa e rendeu três artigos científicos internacionais, um capítulo de livro e a participação da equipe no programa nacional de inovação Emerge Amazônia, quando ficaram entre as nove melhores tecnologias do país.

Para além disso, motivou um depósito de pedido de patente em 2018. O grupo de pesquisadores realça que, na época, quanto à utilização de sistemas binários, isto é, sistema composto por duas substâncias (no caso do invento, o óleo e a cicloamilose) para a veiculação do óleo essencial de açaí e às suas propriedades farmacêuticas, ainda não existem estudos publicados demonstrando o seu grande potencial e utilização. Segundo o documento apresentado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e que circunstancia o pedido, “a invenção apresenta como particularidade o fato de ainda não ter sido utilizada nenhuma molécula capaz de veicular o óleo essencial de açaí, com a finalidade de obter uma forma farmacêutica sólida a ser utilizada por via oral”.