Animais peçonhentos provocam medo em muitas pessoas devido ao perigo que apresentam para os seres humanos. O veneno de certas espécies podem causar reações adversas tanto locais, quanto generalizadas. Apesar do perigo, essas criaturas são também objetos de estudos, como é o caso do Tityus stigmurus, ou Escorpião-Amarelo-Do-Nordeste, estudado pela doutora Menilla Maria, do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (PPgCF/UFRN), que enxergou na peçonha do animal a possibilidade de desenvolver futuros fármacos.
Em artigo publicado em janeiro na Frontiers in Molecular Biosciences, com apoio do Núcleo de Processamento de Alto Desempenho (NPAD) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a pesquisadora apresenta multifunções de molécula isolada do veneno do escorpião, categorizando-o como agente com potencial terapêutico e biotecnológico. Por meio de testagens in vitro, confirmou-se que o peptídeo aniônico — molécula rica em ácido aspártico e glutâmico — do Tityus stigmurus (TanP) é promissor para aplicações terapêuticas como agente quelante de metais com importância biológica, como ferro e cobre, e como imunomodulador, pois atua no sistema imunológico e potencializa resposta orgânica a determinados microrganismos, sendo antioxidante, cicatrizante e anticoagulante.
Essas biomoléculas podem ser transformadas em fármacos, o que não é uma realidade distante. O anti-hipertensivo Captopril, por exemplo, foi desenvolvido a partir de uma molécula presente na peçonha da serpente jararaca brasileira (Bothrops jararaca). Segundo Menilla, estudos como este são importantes para a obtenção de novos produtos com aplicação biotecnológica e farmacológica. Seu estudo foi motivado pela possibilidade de desenvolver um novo remédio. “A principal motivação foi pensar que de alguma forma eu poderia estar contribuindo para ter um novo medicamento lá na prateleira de uma farmácia”, contou.