Para a população do Nordeste, vítimas não denunciam o bullying, revela pesquisa Observatório FEBRABAN

Vítimas de bullying preferem adotar o silêncio após sofrerem esse tipo de prática; quando procuram ajuda, preferem recorrer à própria rede onde o bullying ocorreu ou a familiares.

Essas são algumas das conclusões para o Nordeste da 11ª Edição do Observatório FEBRABAN — Pesquisa FEBRABAN-IPESPE Bullying e Cancelamento: Impacto na Vida dos Brasileiros. Realizada entre os dias 21 de maio e 2 de junho, a pesquisa traça um amplo panorama a respeito do grau de conhecimento dos brasileiros sobre bullying e cancelamento no país.

No Nordeste, 68% afirmam ter a percepção de que as pessoas que sofrem esse tipo de ocorrência preferem ficar caladas; no país, a média dessa constatação é de 62%. Para os entrevistados, as vítimas preferem recorrer às próprias redes sociais em que o cyberbullying ocorreu (23%) ou aos pais, responsáveis ou outros familiares (18%).

Entre as razões que fazem as vítimas de bullying ou cyberbullying não denunciarem nem procurarem ajuda, foram citadas o medo de retaliação (45%), a descrença em obter apoio (44%) e a vergonha (39%).

Ainda na região, a expressão “bullying” é de conhecimento de 74% da população. Como situações caracterizadas como “bullying”, foram citadas agressões que visam humilhar ou ridicularizar alguém (68%) e as agressões repetitivas, verbais ou físicas, feitas na intenção de ofender ou ferir a outra pessoa (59%).

Afirmaram terem sido vítimas, visto ou tomado conhecimento sobre pessoas próximas que foram alvo de bullying 38% das pessoas (o Nordeste é o que teve mais registro de conhecimento de pessoas que foram alvo de bullying, em comparação com outras regiões). Os comportamentos e situações de bullying mais citados foram os xingamentos, provocações, humilhações (51%) e a propagação de boatos negativos sobre a pessoa ou sua família (35%).

Para 63% dos entrevistados, o ambiente escolar (escola ou faculdade) é o local onde o bullying ocorre com mais frequência. O ambiente digital (celular/ internet/ redes sociais/ e-mail) foi lembrado por 24% das pessoas.

Os principais alvos de bullying e cyberbullying citados foram a cor ou raça (29%) e a orientação sexual (27%).

Segundo a pesquisa, a principal consequência do bullying e cyberbullying para as vítimas e a sociedade são os problemas psicológicos, como insegurança, ansiedade, distúrbios alimentares, depressão, suicídio (68% das respostas).

Ainda de acordo com o levantamento, a motivação mais comum de quem pratica bullying é a busca de popularidade, com 24% das citações; outros 20% lembraram a afirmação de poder.

A frase relacionada ao bullying que mais alcançou concordância entre os entrevistados foi “se a brincadeira discrimina, humilha ou ridiculariza alguém ou grupo, já não deve mais ser encarada como brincadeira” (84% concordam).

Para 80% dos nordestinos, a ocorrência de bullying aumentou muito no Brasil; quanto ao cyberbullying, essa percepção de maior ocorrência é ainda maior (86%). Aqueles que acham que o bullying e cyberbullying são tratados no Brasil de forma insuficiente somam 53%.

Quanto à expectativa sobre a evolução do problema do bullying no país nos próximos cinco anos, 37% acreditam que ela vai melhorar, outros 21% acham que não vai se alterar e 35% apostam que vai piorar.

Foram apontadas entre as ações mais importantes para prevenir e combater o bullying e o cyberbullying entre os jovens as campanhas de conscientização e informação (42%) e o apoio psicológico, educativo e judicial (35%).

Cancelamento — sobre a cultura de cancelamento, 27% dos entrevistados disseram conhecer a expressão. Os principais alvos de cancelamento lembrados foram os famosos e celebridades (39%), mas outros 35% afirmam que qualquer pessoa nas redes sociais pode ser cancelada; 73% acham que as situações de cancelamento aumentaram.

Ao serem perguntados se haviam sido vítimas, viram ou tomaram conhecimento sobre pessoas que foram alvo de cancelamento nas redes sociais, 35% disseram que sim; outros 36% responderam afirmativamente que cancelaram ou conhecem pessoa próxima que tenha cancelado alguém na internet.

A frase relacionada ao cancelamento que mais alcançou concordância entre os entrevistados foi “o cancelamento é uma forma de chamar as pessoas à responsabilidade sobre como se comportam e o que publicam nas redes sociais” (70% concordam).

Para 50% dos entrevistados, as redes sociais e seus canais de denúncia são as responsáveis por prevenir ou coibir a cultura do cancelamento: a sociedade, por meio associações e serviços especializados, recebeu 43% das menções.

Entre os famosos mais citados como “cancelados” nas redes sociais estão Karol Conká (32%) e Arthur Aguiar (7%).

Pesquisa nacional – Na média nacional, 35% dos respondentes disseram já terem sido vítimas ou tomaram conhecimento de pessoas que foram alvo de bullying.

A maioria dos entrevistados (62%) ressalta o silêncio das vítimas, que não denunciariam os agressores por falta de apoio (48%), medo de retaliação (46%) e vergonha (também 46%).

As situações de bullying consideradas mais recorrentes, em pergunta de múltiplas respostas, são principalmente xingamentos, provocações e humilhações (61%). Também foram citados boatos negativos (44%), promoção do isolamento (33%), ameaças, intimidações e chantagem (27%) e perseguição (26%).

Em todas as regiões, como primeira resposta sobre a quem as vítimas costumam recorrer em casos de bullying, destaca-se a procura por familiares e amigos (32%). Em seguida, vêm as delegacias, que somam 28%. As próprias redes onde houve as ocorrências são citadas por 23% do total da amostra.

“O bullying e o cyberbullying tornaram-se um grave problema de saúde pública. Depressão, baixa autoestima e tentativas de suicídio são alguns exemplos de consequências dessas condutas, evidenciando a necessidade de ampliar o esclarecimento e a discussão sobre o tema”, aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE. Para ele, esse conhecimento se torna especialmente importante em uma sociedade contemporânea, “mais intolerante e onde a privacidade quase inexiste, mas que, ao mesmo tempo, demanda por mais empatia, ética, responsabilidade e transparência nas relações pessoais e corporativas”.

O Observatório Febraban ouviu 3 mil pessoas em todas as regiões do país, das quais 53% são do sexo feminino. O perfil dos entrevistados tem ainda 43% na faixa dos 25 a 44 anos; ensino médio (41%) e renda familiar de até dois salários mínimos (48%).