Em 10 anos, número de casos de Sífilis no RN é 98 vezes maior, de acordo com Ministério da Saúde

Silenciosamente, uma epidemia se alastra na população: a sífilis. A doença que é sexualmente transmitida tem alcançado índices alarmantes a cada ano no Brasil. Segundo dados do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2020, o número de casos confirmados no País cresceu de 3.936 para 115.371 – valor 29 vezes maior. O Rio Grande do Norte acompanha essa tendência com uma situação ainda mais crítica. Entre 2010 e 2020, o número de casos de sífilis no estado saltou de 173 para 902 – um acréscimo 98 vezes maior.

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema Pallidum. O contágio pode ocorrer por meio de relação sexual, pelo contato direto com sangue contaminado — como compartilhamento de seringas ou transfusão de sangue —, e de mãe para filho (transmissão vertical) na gestação — por via placentária ou no momento do parto.

Os sintomas dependem do estágio em que se encontra, se é uma sífilis primária, secundária ou terciária. Nos dois primeiros, os sintomas são mais evidentes — com sinais físicos como feridas e manchas no corpo —, e o risco de transmissão é maior. Mas, com o elevar do estágio, a doença se torna mais agressiva e pode causar complicações graves, como cegueira, paralisia, doença cardíaca, transtornos mentais e até a morte.

Uma das grandes preocupações relativas à proliferação da doença é o seu tratamento durante o pré-natal, visto que pode ocorrer a transmissão da sífilis de mãe para filho. “Quando temos uma gestante sem acesso ao diagnóstico, e/ou sem tratamento adequado, já há a possibilidade de mais um caso, que será o seu bebê com a sífilis congênita. Daí, o aumento da doença se potencializa e os efeitos também, pois pode causar mal formação do feto, aborto ou morte do bebê, quando este nasce muito doente”, explica Robinson Dias, presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Norte (Sogorn).

De acordo com Iaponira Vidal, obstetra da Rede de Assistência Materno Infantil da Secretaria Estadual de Saúde, um dos principais motivos para este aumento é a recorrente falta do tratamento do parceiro, tanto pelo ginecologista durante o pré-natal da mulher, ou ainda pelo descuido do homem em não se consultar periodicamente com o urologista. “Muitas vezes as grávidas não têm acesso em tempo oportuno ao resultado dos exames de pré-natal. Então, a paciente não consegue esse diagnóstico a tempo, dificultando o tratamento. Ou, quando ela consegue, é tratada, mas o seu parceiro não recebe o atendimento conjuntamente”, relata a médica.

Neste contexto de tratamento, o RN tem um destaque negativo no cuidado com a saúde da mulher. Ainda conforme o boletim, o estado potiguar detém a quarta maior proporção de gestantes com informação de tratamento não realizado, com um percentual de 8,3% — ficando atrás apenas de Pernambuco e Amapá (ambas com 12,1%), e Sergipe (9,0%). O RN também foi o quinto estado a apresentar taxas de incidência de sífilis congênita superiores à taxa nacional (7,7 casos por 1.000 nascidos vivos). Em 2020, a taxa no estado foi de 12,0 casos por 1.000 nascidos vivos.

Para diminuição destes índices, Iaponira Vidal orienta ser necessário e urgente melhorar a assistência do pré-natal — especialmente na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) —, facilitar o acesso aos exames laboratoriais, aprimorar a atenção em relação ao tratamento, focar no acompanhamento do parceiro e também no acesso ao medicamento. “O remédio mais eficaz para tratar a sífilis é a penicilina benzatina. que, apesar de ser barato, nem todos os postos de saúde querem administrá-lo e pode haver falta em algumas unidades de saúde”, realça.