Na primeira demonstração de fé após dois anos de restrições impostas pela pandemia, milhares de pessoas percorreram as ruas do centro de Currais Novos em homenagem a Nossa Senhora Sant’Ana, padroeira da cidade. Foi a primeira procissão da pequena Luana, que adormeceu nos braços do pai; e a primeira manifestação religiosa de grande porte depois do reconhecimento da festa como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio Grande do Norte, conforme a Lei 11.198/2022.
Devota de Sant´Ana, a aposentada Joana Ferreira, 91 anos, estava feliz pela volta da procissão. Nos dois anos anteriores, as celebrações foram feitas sem a participação popular, para evitar a disseminação da covid-19.
A governadora Fátima Bezerra, que sancionou a lei, publicada na edição do dia 12 de julho do Diário Oficial do Estado, acompanhou o trajeto a pé.
Para que a programação religiosa e social da 214ª Festa de Sant’Ana pudesse ocorrer em paz, o Governo do Estado reforçou o aparato de segurança, do trânsito e da defesa civil.
Além da demonstração de religiosidade, da alegria de rever parentes e amigos que moram longe, a festa fomenta a economia da cidade e estimula a solidariedade. A paróquia montou um ponto de arrecadação de alimentos para doar às famílias carentes. “Pão em Todas as Mesas” foi o tema levado à reflexão pela igreja este ano.
História
Na maioria dos municípios nordestinos as manifestações de fé estão vinculadas às dificuldades enfrentadas no passado por donos de terras, relacionadas à saúde da família e às secas. O inverno é fundamental para a sobrevivência da população e da economia do semiárido.
A origem da Igreja Matriz de Currais Novos tem o viés das águas. Registram os historiadores que o Coronel Cipriano Lopes Galvão, preocupado com a falta de chuvas em 1755, prometeu erguer uma capela em louvor à Sant’Ana, caso chovesse o bastante para escapar o gado de sua fazenda. Na mesma noite, a água da chuva desceu pelos rios e riachos, enchendo os poços pelo caminho.
O fazendeiro morreu em 1764, cabendo a um de seus filhos construir a capela, concluída em 1808. O templo foi demolido 80 anos depois para dar lugar à atual Matriz de Nossa Senhora de Sant’Ana, uma das mais belas igrejas do Seridó.
Realizada há mais de dois séculos, desde a inauguração da capela em 1808, a procissão é o ponto alto das homenagens a Sant’Ana em Currais Novos.