Em um feito inédito, cientistas registraram com sucesso a atividade cerebral de polvos na natureza. A façanha pode revelar pistas sobre princípios necessários para a ocorrência de inteligência e cognição nesses moluscos e outros animais, como mamíferos. O experimento, que também pode nos permitir entender como os cérebros dos polvos controlam seu comportamento inteligente, foi publicado online no último dia 23 de fevereiro na revista Current Biology. Medir as ondas cerebrais desses moluscos era um verdadeiro desafio técnico visto que, ao contrário dos vertebrados, os polvos têm corpo mole, portanto, não têm crânio para ancorar equipamentos de gravação.
“Os polvos têm oito braços poderosos e ultraflexíveis, que podem alcançar absolutamente qualquer parte do corpo”, diz em comunicado Tamar Gutnick, primeira autora do estudo e pós-doutora do Instituto de Ciências e Tecnologia de Okinawa, no Japão. “Se tentássemos conectar fios a eles, eles os arrancariam imediatamente, então precisávamos de uma maneira de colocar o equipamento completamente fora de seu alcance, colocando-o sob a pele.”
Como solução, os pesquisadores de uma colaboração internacional de experts do Japão, Itália, Alemanha, Ucrânia e Suíça escolheram registradores de dados pequenos e leves, originalmente projetados para rastrear a atividade cerebral de pássaros durante o voo. Os dispositivos foram adaptados para serem à prova d’água, mas ainda permaneceram pequenos o suficiente para caber facilmente dentro dos polvos.
Os autores da pesquisa anestesiaram três polvos da espécie Octopus cyanea, selecionados devido ao seu tamanho menor de cerca de 80 cm. Eles implantaram eletrodos e um registrador de dados diretamente nos cérebros dos animais. Mais precisamente, o alvo foi a área do cérebro de cada polvo chamada lobo vertical e lobo frontal mediano superior. Além de ser mais acessível, acredita-se que essa região cerebral também seja importante para o aprendizado visual e a memória.
Concluída a cirurgia, os polvos foram devolvidos ao seu lar e monitorados por vídeo. Após somente cinco minutos, eles se recuperaram e passaram as 12 horas seguintes dormindo, comendo e se movimentando, enquanto sua atividade cerebral era registrada. As baterias, que precisavam funcionar em um ambiente com pouco ar, permitiam até 12 horas de gravação contínua. O registrador e os eletrodos foram então removidos dos polvos e os dados foram sincronizados com o vídeo.
“Se quisermos entender como o cérebro funciona, os polvos são o animal perfeito para estudar em comparação com os mamíferos. Eles têm um cérebro grande, um corpo incrivelmente único e habilidades cognitivas avançadas que se desenvolveram de forma completamente diferente das dos vertebrados”, explica Gutnick.
Fonte: Revista Galileu