No Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, uma pesquisa busca compreender como funcionam as proteases virais, que são estruturas fundamentais para o ciclo de vida do vírus da covid-19. O estudo quer entender como o Paxlovid e o Ensitrelvir, medicamentos antivirais desenvolvidos contra o coronavírus, afetam as proteases e como as variantes em circulação aumentam a resistência e comprometem a eficácia desses medicamentos. As conclusões do trabalho são detalhadas em artigo publicado na revista científica Journal of Biological Chemistry.
O coronavírus é usualmente conhecido como uma esfera coberta por proteínas, as chamadas spikes, uma espécie de envelope que contém no seu interior o material genético do vírus. “Quando esse vírus chega às células e após as spikes reconhecerem os receptores, ele ‘joga’ esse material genético dentro delas, sequestrando toda a maquinaria celular”, pontua o pesquisador Andre Schützer de Godoy, que lidera o projeto. “Esse material produz algumas proteínas que são essenciais para a sobrevivência e disseminação do vírus pelo organismo, sendo que dentre essas proteínas está a protease. Essa é a proteína que se transformou em um alvo óbvio para o desenvolvimento de novos medicamentos contra a doença, como os dois medicamentos aqui estudados.”
O Paxlovid e o Ensitrelvir foram dois medicamentos lançados mundialmente em finais do ano passado para combater a covid-19. O primeiro, lançado pela Pfizer e já contando com a aprovação do Food and Drug Administration (FDA) e da Anvisa, e o segundo, desenvolvido pela farmacêutica japonesa Shionogi, mas ainda sem aprovação pelas principais agências mundiais, têm como ponto negativo o alto custo para os pacientes. Apesar de diferentes, ambos os fármacos agem no mesmo alvo do vírus – a protease.
O trabalho desenvolvido foi exatamente sobre o princípio ativo desses dois medicamentos, tendo a equipe buscado nos bancos de dados genômicos (cerca de 7 milhões de genomas) as variantes que existem dessa protease próximas ao sítio ativo – apenas 16. Cada uma dessas proteases foi produzida em laboratório no intuito de verificar como elas se comportam frente aos medicamentos.