Pesquisadora da UFRN afirma que facções rivais estão unidas nos ataques realizados no estado

Os ataques que têm ocorrido no Rio Grande do Norte desde a noite da última segunda-feira, 13, fez com que o Estado, Poderes, diversas entidades, especialistas e sociedade pensassem quem executou e os motivos pelos quais levaram a incendiar patrimônios.

De acordo com o UOL, um relatório que será publicado nos próximos dias indica uma série de violações de direitos humanos, como doenças, comida estragada e tortura, em cinco unidades prisionais inspecionadas pelo órgão entre 21 e 25 de novembro de 2022, dentre elas a Penitenciária de Alcaçuz, que foi palco de um massacre em janeiro de 2017 com 26 mortos após uma investida de presos da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) contra o Sindicato do Crime.

“Em 16 anos de experiência na área [de segurança pública], nunca havia presenciado uma situação tão desumana. O que vimos é realmente chocante. Em literalmente todas as celas que entramos tinha no mínimo uma pessoa machucada. O severo nível de tortura praticada nas unidades prisionais, sobretudo em Alcaçuz, nos deixou muito impressionados”, disse ao Poder360 Barbara Coloniese, que integra o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), que é ligado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

Para Juliana Gonçalves Melo, antropóloga, pesquisadora do sistema prisional e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), os ataques, que já aconteceram de forma parecida desde 2016, são formas que a massa carcerária encontrou para ter suas solicitações atendidas. “Os presos não querem comer caviar, eles querem um alimento que não estrague e não faça mal”, aponta.

“Eles pensam que], se o Estado não me ouve por bem, ele vai me ouvir através da violência. Se eu fizer a greve de fome, ninguém vai ligar. Se eu fizer culto religioso, ninguém vai ligar. Se eu fizer passeata, ninguém vai ligar. Agora, se eu começar a fazer ataques, isso chama a atenção”, explica.

E mais, que a situação chegou num ponto limite em que a rivalidade entre PCC e Sindicato do Crime, que chegou ao auge em 2017 e permanece com planos de vingança, teve uma trégua, segundo a pesquisadora. “É um aceno para que se esqueça esse tempo, essa rivalidade, para que todos lutem por melhoria no sistema porque eles estão reivindicando que todos estão sofrendo desde 2017 e que nada avançou no sentido das pautas reivindicatórias deles”, afirma.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, essa hipótese também é apurada pelo Ministério Público do Rio grande do Norte (MPRN). À reportagem, a assessoria do órgão não confirmou pois as investigações tramitam em sigilo e que instaurou inquérito para investigar as denúncias do MNPCT. “Até o momento, a causa apontada é a insatisfação dos detentos com a ausência de regalias, inclusive visitas íntimas, o que não é previsto na Lei de Execuções Penais. Insatisfações outras, até o momento, têm sido ventiladas aparentemente como narrativas para justificar o movimento criminoso”, informou o órgão em nota.

Com informações do site https://ponte.org/ (editado)