Câmara Municipal realiza audiência para conscientizar sobre perda gestacional e neonatal

A Semana de Sensibilização à perda Gestacional, Neonatal e Infantil foi tema de audiência pública na Câmara Municipal de Natal na manhã desta quinta-feira (05). O debate foi proposto pelo vereador Anderson Lopes (PSDB) que é autor de projeto de lei que institui e inclui no Calendário Oficial de Eventos de Natal.

Os objetivos da semana são: dar visibilidade a problemática; lutar pelo respeito ao luto da mãe e do pai que passaram por essa experiência; contribuir com a sensibilização do tema, disseminar informações para familiares e profissionais da área de saúde e sociedade em geral, a fim de evitar estas fatalidades, além de promover a humanização do atendimento nos serviços de saúde aos casos de perda gestacional, neonatal e infantil, e orientar as famílias enlutadas sobre seus direitos previstos em leis e outras normativas.

Conforme o texto do projeto, a escolha da data tem por base o “Pregnancy and Infant Loss Remambrance Day”, traduzido como “Dia da Memória da perda Gestacional e Infantil”, também chamado de “Dia da Conscientização sobre a Perda Gestacional e Infantil”, observado no dia 15 de outubro de cada ano em diversos países e conta com gestos de sensibilização, quando os pais enlutados acendem uma vela no início da noite e a deixam queimar por, no mínimo, uma hora em homenagem ao seu “anjo”, formando o que se chama de “Onda de Luz”.

“A morte de um bebê, de uma criança é algo que não é natural. O natural no ciclo de vida familiar é nascer, crescer, desenvolver e morrer. Então, quando a criança parte antes dos pais é uma inversão. O processo da vivência desse luto e o fato da sociedade não ver essa barriga crescer quando essa morte acontece, bem no início da gestação, invisibiliza a presença dessa criança e termina que esses pais vivenciam de maneira muito solitária essa dor. O compartilhar, o poder falar a respeito de que esse bebê existiu e de que essa história aconteceu colabora para que as pessoas consigam experimentar essa vivência do luto de uma maneira menos sofrida e dolorosa. Ter espaço de acolhimento, ter um acompanhamento, poder se nominar e se sentir à vontade para falar a respeito é de suma importância para que a própria família não se constranja de tocar no assunto. Quando os filhos perdem os pais, eles são órfãos, mas quando se perde um filho, que é o que a gente chama de uma perda parental, não tem um nome para essa identidade”, observou a psicóloga Mabel Moura.

Flávia Marinho, advogada, foi uma das vozes participantes que contou a sua história. “Sou mãe de quatro filhos, sendo dois anjos e dois arco-íris. Por que arco-íris? Porque meus filhos vieram depois, cada um deles, de uma perda gestacional em razão de uma thrombofilia autoimune, chamada SAF. É uma dor muito difícil, porque ela é uma dor ignorada pela sociedade. A gente, quando tem uma perda fetal, se sente menos mulher. Se sente impotente. Acha que foi culpada por aquele evento que daríamos até a própria vida para que não acontecesse. Então, vejo esse olhar da sociedade com muita preocupação e, sobretudo, com muita consciência que precisamos fazer uma alerta porque perda gestacional não é normal. Não pode ser normal e não pode ser banalizado. Pelos médicos e profissionais de saúde, pela sociedade em geral, pela legislação. Muitas dessas perdas gestacionais têm uma causa, uma razão, como na trombofilia, onde o medicamento é acessível e muitas vezes vemos o SUS e os planos de saúde negando esses medicamentos”, relatou.

“Quero agradecer ao Projeto Picadinhas de Amor, que foi quem procurou o nosso mandato para propor essa audiência pública e também alguns projetos de leis que já são leis na nossa cidade, que foi debatido juntamente com elas. O de hoje, foi um tema bastante sensível e relevante. Nós sabemos que muitas mães e pais têm a perda de seus filhos e essa dor se tornam dores invisíveis pela falta de conhecimento das pessoas que estão ali próximas. Nós temos uma preocupação muito grande porque foi relatado na audiência pública que as mães, quando têm essa perca gestacional, elas ficam dentro do mesmo leito de outras mães com seus bebês. Então, é uma dor dobrada para essa mãe que, além de ter perdido o seu filho, tem que fazer uma curetagem ao lado de mulheres que estão ali prontas para ter o seu filho de forma cirúrgica. Então, nosso mandato vai discutir isso com a Secretaria Municipal de Saúde, com o Ministério Público, para existirem leitos separados para essas mulheres”, falou o vereador Anderson.