“Quem nunca perguntou: ‘será que bicho aprende?’”, questiona Bruna de-Sá, pesquisadora e doutoranda do Laboratório de Etologia, Desenvolvimento e Interações Sociais (Ledis) do Instituto de Psicologia (IP) da USP. Em seus estudos, ela mirou em outra questão que pode ocorrer: “bicho ensina?” – e desenvolveu um ensaio voltado ao conceito e à ampliação do ensino entre animais não humanos.
O processo de ensino-aprendizagem muitas vezes é relacionado a salas de aula e metodologias muito específicas. “As pessoas têm curiosidade sobre isso, e é natural perguntar sobre outros animais”, explica de-Sá sobre a escolha do tema. Entretanto, a pesquisadora também lembra que o assunto é relevante para questionar o que acreditamos ser ensino-aprendizagem, e como ela exclui animais não humanos.
No mundo do comportamento animal, um dos principais exemplos de ensino é o de uma ave chamada popularmente de zaragateiro (Turdoides bicolor). Durante visitas aos filhotes para alimentá-los, o pássaro utiliza vocalizações específicas, que passavam a ser ligadas à alimentação pelos filhotes. Mais tarde, os pais levariam os filhotes até o alimento através desses sons, um método de ensino-aprendizagem conhecido como condicionamento clássico.O ensaio se fundamenta na existência de diferentes definições para ensino. Com base em vários conceitos da etologia – especialidade que estuda o comportamento de animais não humanos – , a pesquisadora traz uma visão de que o aprendizado não é focado apenas na cognição mental, e enfatiza o papel da influência social e das interações entre os indivíduos e o ambiente para os processos de ensino e de aprendizagem.
Com embasamento em diversos pesquisadores – de Robert Hinde, um importante etólogo, a Paulo Freire, patrono da educação brasileira – Bruna de-Sá quis expandir o diálogo e possibilitar um debate sobre o tema. “A literatura [sobre aprendizagem em animais não humanos] é basicamente em inglês. Então, a gente achou legal trazer essa discussão também para a língua portuguesa, porque ela não se encerra na aprendizagem social”, diz a pesquisadora.
O ensaio, intitulado Reflexões sobre o Conceito de Ensino em Animais Humanos e Não Humanos a partir de uma Perspectiva Etológica, foi publicado na revista Cadernos de Psicologia.
Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/animais-nao-humanos-ensinam/