A nacionalização da disputa pela Prefeitura de Natal: entre o palanque e a realidade

A política brasileira tem um jeito peculiar de transformar o ordinário em extraordinário, e a disputa pela prefeitura de Natal é um exemplo claro desta capacidade. A chegada do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Rio Grande do Norte, carregando consigo a bandeira de Paulinho Freire do União Brasil, e a insistência de Lula em lançar Natália Bonavides como candidata do PT, colocam a eleição municipal sob os holofotes da polarização nacional. Mas, afinal, quem ganha e quem perde com essa nacionalização da disputa local?

Vamos começar pelo óbvio: a polarização política tem sido uma constante no Brasil desde 2018, quando Bolsonaro e Lula – este último por intermédio de seu candidato Fernando Haddad – dividiram o país em duas metades quase irreconciliáveis. Trazer essa polarização para a arena municipal pode acirrar os ânimos e transformar a eleição local em um microcosmo da disputa nacional.

Paulinho Freire, apoiado por Bolsonaro, certamente ganha visibilidade e pode capturar o voto daqueles que ainda veem no ex-presidente uma figura de ordem e resistência às pautas progressistas. O apoio de Bolsonaro pode consolidar um eleitorado fiel e apaixonado, disposto a fazer campanha e a defender seu candidato com unhas e dentes. A conexão direta com Bolsonaro pode ser uma vantagem em uma cidade onde o conservadorismo ainda tem raízes profundas.

Do outro lado, Natália Bonavides carrega o peso e o prestígio do apoio de Lula, uma figura histórica que ainda exerce uma influência considerável sobre o eleitorado petista. Lula arrasta multidões e, com sua retórica hábil e carismática, pode trazer para Natália um eleitorado que vê no PT um símbolo de resistência e esperança. Bonavides, com a benção de Lula, pode se apresentar como a continuidade do legado de inclusão e justiça social que o PT afirma defender.

No entanto, essa nacionalização também tem suas desvantagens. A figura do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, que lidera as pesquisas e não conta com o apoio explícito de Lula ou Bolsonaro, é um lembrete de que a política local tem suas próprias dinâmicas. Alves, que já fez campanha tanto para Lula quanto para Bolsonaro, pode se beneficiar da aversão de alguns eleitores à polarização. Ele representa uma alternativa mais pragmática e menos ideológica, que pode atrair aqueles cansados da guerra de narrativas entre PT e Bolsonaro.

A grande questão é: a nacionalização da disputa é um reflexo da realidade política ou apenas um espetáculo midiático? Em um cenário no qual a gestão municipal exige soluções práticas e locais, transformar a campanha em um palanque para os grandes líderes nacionais pode desviar o foco dos problemas reais de Natal. A cidade precisa de políticas públicas eficazes, de uma gestão competente e de um prefeito que entenda suas especificidades e demandas.

Em última análise, quem ganha ou perde com essa polarização depende de como os candidatos locais vão se posicionar e de como o eleitorado vai reagir a essa importação da disputa nacional. Se os candidatos conseguirem equilibrar o apoio nacional com propostas concretas e viáveis para Natal, podem transformar o cenário a seu favor. Caso contrário, correm o risco de se perderem em meio ao vendaval de promessas e retóricas vazias que, no fim das contas, pouco têm a ver com a vida cotidiana dos natalenses.

A nacionalização da disputa pela prefeitura de Natal é, sem dúvida, um espetáculo fascinante de se observar. Mas, como bem sabemos, política não é só espetáculo. É, antes de tudo, a arte de governar. E, para governar bem, é preciso muito mais do que discursos inflamados e apoios de peso; é preciso competência, visão e, acima de tudo, um compromisso verdadeiro com os cidadãos.