Ah, o primeiro ano de mandato! Um período mágico, repleto de promessas e esperanças, no qual um novo prefeito pode ser o maestro de uma sinfonia política. Paulinho Freire, empresário de sucesso, político experiente e novo comandante da prefeitura de Natal, entrou no “corredor da folia” com um discurso firme e medidas que, se bem orquestradas, podem trazer um sopro de renovação à gestão pública da cidade. Contudo, como já dizia o filósofo grego Aristóteles, “A excelência não é um ato, mas um hábito.” E é justamente na construção desse hábito que Freire terá que se empenhar.
Logo em seu início, o prefeito anunciou a meta ousada de reduzir R$ 6 milhões em despesas mensais, uma jogada que, à primeira vista, soa como uma música harmoniosa aos ouvidos da população. Afinal, quem não aprecia a ideia de uma administração mais enxuta e eficiente? Porém, como em toda boa sinfonia, existem sempre notas dissonantes que podem desafinar a melodia. A pressão de seu grupo político, recheado de ex-vereadores e lideranças que almejam seus quinhões de poder, pode ser a primeira grande pedra no caminho de Freire.
É nesse contexto que lembramos do sábio Machiavelli, que já alertava sobre a fragilidade do poder. São os primeiros meses que oferecem ao gestor a liberdade de agir com coragem, mas é precisamente nesse mesmo período que as amarras da política começam a apertar. Freire tem a chance de se firmar como um líder que prioriza o bem coletivo e não apenas os interesses dos aliados que o ajudaram a conquistar a cadeira. E é aqui que reside o dilema: será que ele terá coragem de cortar os laços que o prendem as costumeiras práticas?
O secretário de Planejamento, Vagner Araújo, menciona a possibilidade de redução de cargos comissionados, um passo que pode ser visto como um gesto de ousadia. É claro que, ao cortar custos, Freire também estará cortando privilégios que muitos aguardam como um mimo garantido. O dilema é quase shakespeariano: “Ser ou não ser?” Será que Freire será capaz de se desvincular da velha política e fazer o que é necessário, mesmo que impopular?
É preciso lembrar que a gestão pública não é um mar de rosas; é uma dança entre o que é necessário e o que é desejável. E, se formos avaliar a coragem de Freire, devemos também considerar as palavras de Nelson Mandela: “A coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele.” O prefeito deve, portanto, triunfar sobre os temores de descontentamento e resistir à tentação de agradar aos poderosos que o cercam. E o principal: precisa fazê-lo agora que tem apoio popular e político.
A modernização da gestão pública e a eliminação do uso de papel são medidas louváveis que apontam para um futuro mais eficiente. Mas é fundamental que Freire não se deixe levar apenas por promessas tecnológicas que, sozinhas, não resolverão os problemas estruturais da cidade. A verdadeira inovação vem acompanhada de uma reavaliação crítica das prioridades e da disposição de enfrentar a resistência de um sistema que frequentemente se alimenta de ineficiências.
Paulinho Freire tem, portanto, nas mãos a batuta que pode reger uma nova era em Natal. Que ele tenha a sabedoria de afinar sua orquestra com as vozes da população, sem se deixar levar pelas pressões do poder. O primeiro ano é o momento crucial para deixar sua marca e construir um legado. E, como bem disse o filósofo francês Voltaire, “O melhor é inimigo do bom.” Que a escolha de Paulinho Freire seja pelo melhor, mesmo que isso signifique desafiar o “status quo”. A cidade de Natal merece uma gestão que cante em harmonia com as necessidades de seu povo, e não apenas com os acordes da velha política.