Ontem mesmo eu já tinha disparado aqui que o presidente Jair Messias Bolsonaro desperdiçou uma chance de falar para o mundo e preferiu conversar com os apoiadores do “cercadinho” do Planalto. Para a imprensa internacional, o discurso do presidente brasileiro foi majoritariamente criticado, principalmente o negacionismo em relação à pandemia e ao meio ambiente.
No Brasil, entre políticos, analistas e ambientalistas, a avaliação é de que o discurso do presidente foi uma peça de ficção sem qualquer respaldo. Ah, e para completar o vexame internacional, o ministro da Saúde, sim, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga, que acompanhou Bolsonaro em todos os eventos em Nova York, testou positivo para covid-19 e ficará em quarentena na cidade. Um desastre completo a presença do Brasil na Assembleia Geral da ONU. Digno de vergonha alheia.
Mas não pensem que Bolsonaro fez só mais uma bobagem. Ele tem método e arrisca o que sobrou da imagem do Brasil lá fora com um único objetivo é a grande questão usar a ONU para falar com seu público-alvo e não o mundo, mas sua base fiel de apoiadores, que passa por um momento de hipermedicalização. Esse processo é identificado em pesquisa de Esther Solano, doutora em sociologia e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O grupo de bolsonaristas raiz vem encolhendo – de 17% a 11% do eleitorado, segundo o DataFolha –, mas está mais aguerrido. “É o empoderamento do homem médio, conservador, que nunca se sentiu visibilizado pela grande política. Para eles, caindo o Bolsonaro, eles caem junto”, diz Solano.