Brumadinho, tragédia em curso: crescem adoecimentos psíquicos após rompimento de barragem

O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, em 2019, além de causar perdas humanas e sérios impactos ambientais e socioeconômicos, levou a um aumento significativo do adoecimento psíquico entre os moradores da cidade. Uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP revelou que o número de atendimentos individuais nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do município mais que dobrou, comparativamente aos demais municípios de Minas Gerais, nos anos posteriores à tragédia. Além disso, o número de hospitalizações por abusos de substâncias psicoativas também apresentou tendência de crescimento em comparação aos números dos demais municípios. Os dados analisados foram extraídos do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DataSUS).

A tragédia de Brumadinho aconteceu em janeiro de 2019 causando o vazamento de 12 milhões de m³ de rejeitos de minérios, uma avalanche de lama contendo substâncias tóxicas que matou 272 pessoas, incluindo três desaparecidas, além de destruir casas, uma aldeia indígena e contaminar solo e água dos rios da bacia Paraopeba. “O desastre de Brumadinho não foi um acontecimento pontual. A catástrofe teve consequências que seguem se desdobrando e gerando ininterrupto sofrimento às populações afetadas”, explica a pesquisadora Priscila Porr. O evento foi objeto da pesquisa de mestrado de Priscila, no trabalho Avaliação do impacto do rompimento da barragem de Brumadinho na saúde mental, que teve a orientação do professor Ariaster Baumgratz Chimeli, da área de economia ambiental da FEA.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar que permite às pessoas desenvolver suas habilidades pessoais para enfrentar desafios da vida e contribuir com a comunidade. Esse conceito abrange não apenas fatores individuais, mas também aspectos sociais, ambientais e econômicos. Para a professora Belinda Piltcher Haber Mandelbaum, psicanalista e docente do Instituto de Psicologia (IP) da USP, não se deve tratar a questão de Brumadinho como um problema meramente individual. Belinda fala em trauma social. “A tragédia resultou em sofrimentos psicossociais que impactaram tanto os indivíduos quanto a comunidade como um todo”, enfatiza.

Segundo o estudo da USP, a prevalência de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) acomete em torno de 5% a 60% das pessoas quando elas experienciam desastres naturais como furacões, inundações, epidemias; e de 25% a 75% quando presenciam desastres derivados da ação humana, como catástrofes industriais que envolvem contaminantes, rompimento de barragens, desastres radioativos, dentre outros. Para a professora Belinda, estamos constantemente interagindo com a realidade que nos confronta com situações excessivas para nossa capacidade psíquica, o que pode nos levar ao adoecimento, manifestando-se em reações como ansiedade, medo e tristeza. “Freud dizia que cada perda que se vive, de alguma maneira, nos faz entrar em contato com todas as perdas que já tivemos”, reflete.

Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/brumadinho-tragedia-em-curso-crescem-adoecimentos-psiquicos-apos-rompimento-de-barragem/

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