Câmara dos Deputados e Senado têm nova “onda de direita” puxada por Bolsonaro

A “onda de direita” que varreu o Legislativo brasileiro nas eleições gerais de 2018 não foi um evento passageiro, como demonstram os resultados eleitorais para a Câmara e Senado deste domingo (02/10).

A nova composição das duas Casas indica que a extrema direita foi bem-sucedida em fincar raízes na paisagem política brasileira e conseguiu manter um eleitorado fiel, mesmo com todos os problemas que a administração de Jair Bolsonaro (PL) enfrentou nos últimos quatro anos.

Apesar de aparecer em desvantagem na disputa para o segundo turno presidencial, Bolsonaro ainda demonstrou ser um cabo eleitoral influente, não só para eleger aliados, mas também para punir direitistas que romperam com o Planalto.

Vitórias bolsonaristas no Senado
Bolsonaristas “raiz” e aliados do Centrão que colaram em Bolsonaro conquistaram 14 das 27 vagas no Senado. Apenas oito candidatos que receberam endosso de Lula conseguiram cadeiras na Casa – seis deles da região Nordeste. Com o resultado, só o PL de Bolsonaro passará a contar com a maior bancada da Casa: 14 senadores, cinco a mais do que a última composição. É a primeira vez desde a redemocratização que o MDB não vai ter a maior bancada.

Caso supere Lula no segundo turno e seja reeleito, Bolsonaro poderá contar com uma base de 24 senadores, levando em conta a quantidade de senadores bolsonaristas ou aliados que já ocupam vagas na Casa.

A partir de 2023, o Senado vai contar com uma série de bolsonaristas “puro sangue”, como a ex-ministra Damares Alves, eleita pelo Distrito Federal, o atual vice-presidente Hamilton Mourão, que garantiu vaga no Rio Grande do Sul, e Jorge Seif, ex-secretário da Pesca que vai representar Santa Catarina. Em São Paulo, o ex-ministro Marcos Pontes (PL), derrotou o ex-governador Márcio França (PSB), contrariando as pesquisas que apontavam favoritismo do socialista.

A eleição da fundamentalista cristã Damares recebeu apoio decisivo da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que ignorou os arranjos do PL, o partido do seu marido, que havia lançado a ex-ministra Flávia Arruda. Já o caso de Seif surpreendeu, já que sua votação foi 20 pontos superior ao captado em uma pesquisa divulgada na sexta-feira.

Outro aliado do presidente eleito neste domingo foi Magno Malta (PL-ES), outro cristão fundamentalista, que havia amargado uma derrota em 2018 e vai voltar à Casa após um intervalo de quatro anos.

Bolsonaristas e aliados do Centrão ampliam espaço na Câmara
O casamento do bolsonarismo com o PL, uma sigla tradicional do Centrão, rendeu frutos. O partido conseguiu eleger a maior bancada da Câmara, segundo projeções iniciais. A bancada da legenda pode ter 99 deputados. O número supera os 52 parlamentares do PSL que Bolsonaro havia impulsionado em 2018. A nova bancada do PL será a maior na Casa em 24 anos.

Já a federação formada por PT, PCdoB e PV deve ser a segunda maior força da Casa, com 79 deputados, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Só os partidos do Centrão, formados por PL, União Brasil, PP e Republicanos devem eleger 229 deputados federais – 48% da Câmara.

Na Câmara, o bolsonarismo ainda garantiu uma marca simbólica: a maior votação individual de um deputado federal no país, que foi obtida em Minas Gerais pelo vereador Nikolas Ferreira (PL-MG), de 26 anos, um influencer bolsonarista das redes sociais.

Fonte: DW Brasil