Por meio de um parasita geneticamente modificado em laboratório, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP identificaram novas classes de compostos químicos com potencial de bloqueio da transmissão da malária. A versão transgênica do Plasmodium, parasita que causa a doença, permitiu testar 6.631 compostos em condições que reproduzem a fecundação no mosquito vetor da malária, encontrando 185 substâncias que inibem o parasita in vitro em baixas concentrações. Dos compostos identificados, cinco tiveram sua ação confirmada em experimentos de infecção de mosquitos em Rondônia e nos Estados Unidos. A partir dos resultados, novos estudos poderão desenvolver antimaláricos com modo de ação diferente das drogas já conhecidas.
O foco do trabalho são os gametócitos, forma do parasita que infecta o mosquito Anopheles, responsável pela transmissão da doença para seres humanos. Em uma pesquisa anterior, os cientistas do ICB criaram uma versão transgênica do gametócito, capaz de se reproduzir num meio de cultura em placas de laboratório. O parasita geneticamente modificado possui uma enzima que só é produzida quando há formação de zigotos, células resultantes da fecundação do parasita, que normalmente ocorre no intestino dos mosquitos. Em contato com um substrato colocado nos poços da placa, a enzima emite luz sempre que há fertilização, e a detecção por meio de um medidor de luz permite a triagem de um grande número de drogas que impedem a transmissão da malária.
“No primeiro estudo, testamos cerca de 400 compostos com baixa diversidade. Agora, aumentamos a escala de triagem para triar simultaneamente 6.631 compostos no nosso modelo de teste in vitro. Para isso, adaptamos o experimento com o parasita que criamos para placas experimentais com 1.536 poços cada uma”, explica ao Jornal da USP o professor Daniel Bargieri, que coordenou a pesquisa. “Com isso, pudemos testar cada um dos compostos em 15 diluições diferentes, gerando uma curva de atividade de inibição para cada um deles. Os perfis das curvas indicam não apenas se há atividade, mas também o quão potente ela é. Assim, selecionamos 185 compostos que inibem o parasita in vitro em baixas concentrações.”