Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, criaram o primeiro atlas do ovário humano com resolução ao nível celular. O novo estudo pode levar a tratamentos de restauração de hormônios ovarianos, instaurando a capacidade de mulheres estéreis terem filhos biológicos. As descobertas foram publicadas em 5 de abril na revista Science Advances.
O novo atlas permite uma compreensão mais profunda do ovário, o que poderá ajudar pesquisadores a criar ovários artificiais em laboratório, utilizando tecidos que foram armazenados e congelados antes da exposição a tratamentos médicos tóxicos, como quimioterapia e radiação.
A implantação de tecido ovariano previamente congelado já é possível hoje e busca restaurar temporariamente a produção de hormônios e óvulos. Contudo, o tratamento não funciona por muito tempo: poucos folículos sobrevivem através da reimplantação.
O atlas indicou fatores que permitem o amadurecimento de um folículo, o que poderá ser útil para os cientistas contornarem esse problema. “A mágica pela qual estamos trabalhando é ser capaz de acionar uma célula imatura para a maturidade, mas sem saber quais moléculas impulsionam esse processo, estamos cegos”, explica Jun Z. Li, vice-presidente do Departamento de Medicina Computacional e Bioinformática da Universidade de Michigane coautor do estudo, em comunicado.
Para investigar o assunto, os pesquisadores usaram novas ferramentas a fim de identificar os genes presentes ao nível unicelular dentro de tecidos. Com isso, eles localizaram os folículos ovarianos que carregam os precursores imaturos dos óvulos, conhecidos como oócitos.
“Agora que sabemos quais genes são expressos nos oócitos, podemos testar se afetar esses genes poderia resultar na criação de um folículo funcional”, conta Ariella Shikanov, professora associada de engenharia biomédica da Universidade de Michigan e autora do estudo. “Isso pode ser usado para criar um ovário artificial que eventualmente poderia ser transplantado de volta para o corpo.”
Além disso, os cientistas rastrearam toda a atividade gênica em amostras de tecido de doadores de órgãos utilizando uma tecnologia chamada transcriptômica espacial. Isso permitiu a equipe sequenciar o RNA de ovários de cinco doadores humanos. “Esta foi a primeira vez em que pudemos segmentar folículos ovarianos e ovócitos e realizar uma análise de transcrição, o que nos permite ver quais genes estão ativos,” destaca Shikanov.
A professora e colaboradores estão mapeando outras partes do sistema reprodutivo feminino, incluindo o útero, as trompas de Falópio e os ovários. O novo estudo fez parte do projeto Human Cell Atlas, que busca criar mapas de todos os diferentes tipos de células, suas características moleculares e onde estão localizadas.
Fonte: Revista Galileu