Departamento de Infectologia da UFRN emite nota sobre uso de medicamentos preventivos ou terapêuticos para Covid 19

O Departamento de Infectologia da UFRN emitiu uma nota para a sociedade a respeito do uso de medicamentos preventivos ou terapêuticos para Covid 19. A reunião plenária teve participação de todos os professores do departamento, com o objetivo de apresentar dados da literatura que justificassem o uso de tais medicações. Segue a nota: 

“O DINF esclarece que, caso haja nova evidência científica publicada, estas recomendações serão atualizadas.

1 – Uso de medicação profilática pré-exposição. Até o momento não há dados na literatura que justifiquem o uso de qualquer fármaco para evitar a infecção pelo SARS-CoV-2 ou ainda, que possa impactar na gravidade da doença antes que ela se estabeleça, como por exemplo a ivermectina. O tema profilaxia pré-exposição não tem sido contemplado por ensaios clínicos;

2 – Uso de medicação para profilaxia pós-exposição. Este ponto tem sido contemplado por ensaios clínicos randomizados e os resultados até agora apontam para ineficácia desta medida, como por exemplo, o uso da hidroxicloroquina para este objetivo. Aguardamos por publicações científicas que justifiquem a intervenção preventiva medicamentosa; 

3 – Uso de medicações que controlem ou reduzam a replicação do SARS-CoV-2 em humanos. Até o momento o uso da cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina ou lopinavir/ritonavir não se mostraram eficazes no controle da replicação viral em ensaios clínicos em humanos. Não há evidência de impacto no curso clínico e prognóstico da doença.

No tocante à ivermectina, não foi identificado nenhum ensaio clínico em humanos relacionado ao seu uso no tratamento da COVID-19. O Remdesivir não está disponível no Brasil até a presente data. Este medicamento parece ter uma ação no controle da replicação viral, todavia seu uso estaria recomendado somente para casos hospitalizados e graves;

4 – Uso de terapêuticas que interfiram no curso clínico da enfermidade por agirem sobre o sistema imune, incluindo imunoterapia. Dexametasona: evidência preliminar de um estudo ainda não publicado sugere que baixa dose de dexametasona (6 mg/dia) tenha benefício no manejo de pacientes graves, com necessidade de oxigênio suplementar. Até o momento, o uso de corticoide nos casos leves não está indicado, devendo-se enfatizar que o seu uso em fases iniciais da doença tem potencial de dano. Quanto ao uso de inibidores de interleucina-1 e inibidores de IL-6 (sarilumab, siltuximab e tocilizumab), ainda não há dados suficientes que respaldem sua eficácia na COVID-19, no entanto, admitimos seu uso compassivo em pacientes graves e/ou contexto de ensaios clínicos randomizados e aprovados pelas agências regulatórias. A imunoglobulina anti-SARS-CoV-2 ou soro de convalescente não devem ser empregados por falta de dados da literatura que justifiquem o seu uso;

5 – Uso de terapia antitrombótica. Este tema não foi contemplado na reunião. Após ampla discussão dos temas, os professores do DINF concluíram que estas recomendações seriam as mais atualizadas, com base nas evidências científicas disponíveis, a serem seguidas pelos médicos e comunidade acadêmica.”