Edição de genes “deleta” mecanismo de contágio de infecção sexualmente transmissível

A técnica de edição de genes CRISPR-Cas9 vem sendo pesquisada como uma ferramenta promissora para o tratamento de doenças genéticas e infecções, por “cortar” e “deletar” partes do genoma relacionadas a esses distúrbios. Pesquisadores da USP apontam, em artigo de revisão, que o método é testado para deter o contágio do HTLV, infecção transmitida por vírus em relações sexuais e transfusões de sangue, podendo em alguns casos levar a doenças graves como leucemia e problemas no sistema nervoso. Os estudos, em fase laboratorial, mostram que a edição interrompe a integração dos vírus com as células hospedeiras que usa para multiplicar-se, além de desativar genes essenciais para a sua sobrevivência.

“O HTLV é uma infecção sexualmente transmissível (IST) que se propaga principalmente por relações sexuais desprotegidas, com maior frequência de transmissão do homem para a mulher”, explicam ao Jornal da USP o pesquisador Wilson Domingues, primeiro autor do artigo, Victor Folgosi e o professor Jorge Casseb, do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), orientador do trabalho. “A transmissão por vírus pode acontecer por meio de transfusões de sangue, compartilhamento de agulhas entre usuários de drogas e, verticalmente, de mãe para filho, durante a gestação, parto ou amamentação.”

“A maioria dos infectados, cerca de 90%, permanece assintomática ao longo da vida, contribuindo para uma transmissão silenciosa”, apontam Domingues, Folgosi e Casseb. “No entanto, aproximadamente 10% dos infectados desenvolvem doenças graves, como leucemia de células T do adulto, uveíte, mielopatia, além de outras condições como dermatite infecciosa, artrite e neuropatia periférica”. A uveíte é a inflamação do revestimento interior pigmentado do olho, a úvea; a mielopatia é um distúrbio do sistema nervoso que afeta a medula espinhal e a neuropatia periférica é um dano nos nervos que vão da medula espinhal até os membros, como as mãos e os pés.

“O objetivo do artigo foi revisar e discutir, de forma abrangente, os avanços e desafios associados ao uso da tecnologia de edição de genes CRISPR/Cas9 na modificação genética dos vírus retrovirais, especificamente o HTLV-1”, destacam os pesquisadores. “Através da análise crítica de estudos atuais, a publicação abordou o potencial dessa ferramenta para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, além de destacar as limitações técnicas e éticas que ainda precisam ser superadas para sua aplicação clínica em infecções retrovirais.

De acordo com Domingues, Folgosi e Casseb, a edição de genes com CRISPR-Cas9 é uma técnica revolucionária de engenharia genética que permite modificar de forma precisa o DNA de células e organismos. “O CRISPR funciona como um mecanismo de defesa contra vírus. A proteína Cas9, associada ao CRISPR, é responsável por cortar o DNA em locais específicos”, relatam. Originalmente, o CRISPR é uma parte do DNA de bactérias. “A técnica funciona da seguinte maneira: um guia de RNA é projetado para se ligar a uma sequência específica no genoma, e a proteína Cas9 é recrutada para essa região, onde realiza um corte preciso no DNA.”

Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/edicao-de-genes-deleta-mecanismo-de-contagio-de-infeccao-sexualmente-transmissivel/