Em discurso, Lula acusa rede de supermercados de cometer crime e disse que “neste país a gente não vai admitir o racismo”

A rede de supermercados onde um homem negro foi espancado em 2020 é acusada novamente de discriminação. Na sexta-feira (7), a professora Isabel Oliveira denunciou ter sido vítima de racismo dentro de um mercado da rede Atacadão, do grupo Carrefour, em Curitiba (PR) – Ela fazia compras quando disse ter sido perseguida por seguranças do estabelecimento por mais de 30 minutos – e no sábado (8), Vinicius de Paula publicou um vídeo denunciando uma situação que ocorreu em uma unidade do Carrefour em São Paulo (SP) – uma mulher que trabalhava em um caixa da rede deixou de atendê-lo, afirmando que poderia ser penalizada por fazê-lo .

Sobre o primeiro caso, o Atacadão diz não identificar “indícios de abordagem indevida” depois de ouvir os funcionários envolvidos e analisar as imagens das câmeras de segurança, além de lamentar o ocorrido e se colocar à disposição da vítima. Em mais uma nota, o Carrefour não classificou o último caso como racismo, mas lamentou o ocorrido. “Nos últimos dois anos o Carrefour assumiu a responsabilidade de fazer uma transformação de dentro para fora no combate ao racismo estrutural no país, com investimento de mais de R$ 115 milhões, com maior foco na área de educação. Todos os nossos colaboradores são constantemente capacitados para uma postura antirracista e recentemente firmamos uma parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares para criação do primeiro curso de nível superior para formação de profissionais na área de segurança visando combater o racismo”, diz o grupo.

Com as novas acusações, o histórico vexatório da companhia em relação ao problema volta à tona e para o especialista em ética, diversidade, equidade e inclusão, e CEO da Condurú Consultoria, Deives Rezende Filho, a pergunta que fica é: como fazer com que D&I seja pra valer e não só estratégia de marketing, a ponto de atingir não só funcionários como também toda cadeia de valor, gerando um impacto positivo para a marca e prevenindo crises como as que têm sido cada vez mais alardeadas?

“Empresas que geram milhares de empregos, contratam milhares de parceiros e fornecedores, impactam toda uma cadeia e as comunidades nas quais estão inseridas. Se mapearem isso e exigirem práticas de transparência, ética, diversidade, equidade e inclusão, o impacto produzido e por consequência o ganho social adquirido será imensamente maior do que se essas ações ficassem apenas no escritório ou na matriz”, explica Rezende.

Sobre o caso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma declaração durante discurso de abertura da reunião para debater os 100 primeiros dias do governo. Lula acusou a empresa de cometer crime e disse que “neste país a gente não vai admitir o racismo”.

Diante deste cenário, é essencial que todas as empresas – incluindo o Carrefour – olhem para a diversidade na cadeia de valor não só na hora da crise, mas sim como uma estratégia de negócio. “Vale ressaltar que as redes varejistas verdadeiramente comprometidas, de dentro para fora, com a diversidade e inclusão, e que oferecem produtos voltados para o público diverso não estão cuidando apenas de manter seus lucros, de reter e atrair novos talentos e consumidores. Elas contribuem para uma sociedade com mais justiça social. E é isso que o nosso país, com toda sua diversidade, espera”, finaliza.