Em estudo piloto, população indígena aldeada apresentou genes que reduzem gravidade da covid

Durante a pandemia de covid-19, pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) realizaram atendimento de saúde a povos indígenas da Amazônia, junto a estudos epidemiológicos conduzidos pelo Laboratório de Genética Humana e Médica e pelo Laboratório de Virologia, em uma frente de trabalho que relacionava prevenção e tratamento da doença. Logo em 2020, em uma das aldeias Xikrin do município de Anapu, no Pará, as equipes se surpreenderam ao observar que a maioria desta população já estava imune e tinha resposta de anticorpos para o vírus sars-cov-2.

Diante dessa constatação, os cientistas começaram a investigar e avaliar genes que poderiam estar relacionados a fatores de risco para a doença ou de proteção do sars-cov-2. O estudo piloto, publicado na Revista Infection, Genetics and Evolution e feito em parceria com o Instituto de Biociências (IB) da USP, mostrou que o perfil genético das populações analisadas pode estar associado a uma doença mais branda em comparação às populações brasileiras e sul-americanas.

O sars-cov-2 circulou rapidamente entre os povos indígenas da Amazônia após a primeira infecção, também por causa de aspectos culturais e comportamentais dessas populações – a coabitação sem condições de isolamento, por exemplo. Mas, apesar da alta taxa de contaminação, eles atingiram níveis de imunidade coletiva poucos meses após o início dos casos.

“Imaginávamos que houvesse alguma diferença na invasão da célula, mas não observamos isso. Não havia diferença na suscetibilidade à infecção”, explica João Farias Guerreiro, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA. O que ocorreu foi que a grande maioria dessa população desenvolveu uma forma branda ou assintomática da covid-19, que só se detectava ao fazer exames de anticorpos.

Os estudos de epidemiologia foram feitos em colaboração com a Secretaria de Estado da Saúde do Pará (SESPA) e com a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI). No total, foram coletadas amostras de sangue de 263 indígenas dos povos Araweté, Kararaô, Parakanã, Xikrin do Bacajá, Kayapó e Munduruku, entre 2020 e 2021. As análises do material mostraram que os genes ACE1, ACE2 e TMPRSS2 podem influenciar a gravidade da covid-19 e, no caso desses povos, a baixa frequência genômica dessas variantes de risco pode ter contribuído para a menor gravidade da doença entre eles.

“Nós acreditamos que exista uma variabilidade genética dos povos indígenas que conferiu a eles uma maior vantagem em termo de mortalidade. Em termos de incidência, a taxa de infecção foi maior em indígenas aldeados do que em populações não-indígenas”, explica o pesquisador.

Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/em-estudo-piloto-populacao-indigena-aldeada-apresentou-genes-que-reduzem-gravidade-da-covid/

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