As últimas informações divulgadas pelo Ministério da Saúde trazem o dado alarmante de quase 690 mil casos prováveis de dengue pelo país. Somente no Rio Grande do Norte, o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SESAP), registrou 767 casos prováveis da doença, um aumento de 80%, se comparado ao mesmo período de 2023. Os números trazem o alerta para a importância das pessoas se atentarem aos sintomas, principalmente em casos de agravamento deles.
Para o médico clínico-geral da Humana Saúde, Thybério Giorgi, o sintoma mais comum é a febre que pode durar até 7 dias e dores de cabeça intensas nas primeiras 72h. “Além da febre, em casos mais graves da doença, o paciente pode apresentar desidratação, letargia, irritabilidade, sangramentos em mucosas, dores abdominais, hipotensão (pressão baixa), hepatomegalia (aumento do fígado), taquicardia e má perfusão, quando o coração não tem força suficiente para mandar o sangue para frente, entre outros. Em casos atípicos, o paciente pode apresentar um padrão respiratório, que chamamos de respiração de Kussmaul (respirações rápidas e profundas) que geralmente vem com um quadro de acidez no sangue”, explica o médico.
Apesar dos números altos, não há necessidade de ir ao hospital em todos os casos. Segundo a Diretriz Nacional dos Cuidados Contra a Dengue, a última publicação recomenda que em casos de apenas febre e sintomas mais comuns, a orientação é controlar a febre com antitérmico e reforçar a hidratação com água, soro, sucos e chás. “Há sinais de gravidade importantes que precisam ser divulgados como a diminuição do fluxo de urina, associada a fortes dores abdominais e sangramento nas mucosas como nariz e gengiva, os mais comuns. Nesses casos, o paciente deve ser levado imediatamente para a urgência”, destaca o especialista.
Grupos de riscos
Assim como na Covid-19, às pessoas com doenças crônicas como diabetes e hipertensão arterial são propensas a uma evolução e agravamento do quadro de dengue. “Há predisposição para alguns pacientes que têm coagulopatias já preexistentes (hemofilias e a doença de Von Willebrand e distúrbios hemorrágicos como deficiências de fator I,II,V,VII,X e XIII). Além disso, pessoas com tendência a inflamações acentuadas podem ter maiores riscos de desenvolver as formas graves”, reforça Thybério Giorgi.
O médico descreve ainda que a doença se agrava por ocasionar um extravasamento de plasma de dentro do vaso sanguíneo de três formas: derrame pleural, quando atinge o pulmão e há um desconforto respiratório; derrame pericárdico, quando acontece no pericárdio e gera uma sobrecarga cardíaca; e insuficiência hepática, quando inflama o fígado e ele perde sua capacidade de fazer coagulação do sangue. “Outro paciente que entra para o grupo de risco é aquele que faz uso de medicamentos afinadores do sangue, como Varfarina, Ácido Acetilsalicílico, heparinas e afins”, pontua.
Diagnóstico e tratamento
Thybério frisa que o diagnóstico de dengue é clínico, sem necessidade de exames laboratoriais, sendo necessário apenas em casos de internação. “Deve ser esclarecido ao paciente que exames específicos para confirmação não são necessários e quando é preciso, é importante respeitar o período desde o início do sintoma. Até o quinto dia podemos solicitar o NS1 e RT-PCR. Após isso, um hemograma completo é importante para checagem das células vermelhas (hemácias/ hemoglobinas/ hematócrito) assim como células brancas (leucócitos) e também as plaquetas. Com ele é possível analisar o processo inflamatório e evolução da doença”, esclarece o especialista.
Para o tratamento, é recomendado o uso de medicamentos para controle de temperatura, antitérmicos, como a dipirona e o paracetamol e, para incidência de vômitos, antieméticos e soros de reidratação oral. Ele chama a atenção também para remédios que não podem ser usados em casos de suspeita de dengue. “Estão contraindicados anti-inflamatórios não esteroides como Ibuprofeno, Cetoprofeno, Naproxeno, assim como, Ácido Acetilsalicílico (AAS), aspirina e os da mesma classe, que podem aumentar o risco de complicações”, alerta.
Em alguns casos, o paciente pode apresentar empolamento da pele. “A presença de vermelhidão e coceira ocorre em cerca de 50% dos pacientes com dengue clássica. Chamamos isso de rash cutâneo e em geral aparece em uma das três fases da dengue: febril, crítica ou recuperação, sendo evidente na fase de recuperação”, avisa o especialista.