Estudo do Butantan usa carrapato-estrela para fazer proteína contra tumores

A partir da análise do DNA da glândula salivar do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), cientistas do Instituto Butantan encontraram moléculas capazes de tratar doenças e produziram uma proteína recombinante com atividade antitumoral, a Amblyomin-X. O artigo publicado na revista Frontiers in Molecular Biosciences e divulgado em 17 de janeiro é uma revisão de 20 anos de pesquisas desse tema.

Estudo do Butantan usa carrapato-estrela para fazer proteína contra tumores — Foto: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

O carrapato-estrela é hematófago, ou seja, alimenta-se de sangue para se nutrir. Para manter o sangue do hospedeiro fluido, algumas moléculas de sua saliva têm ação anticoagulante – caso da Amblyomin-X.

É também por meio da picada que essa espécie transmite a febre maculosa. Apesar disso, a biomédica Aline Ramos explica que a única forma de contrair a doença é pelo contato direto com o animal infectado pelo microrganismo causador da enfermidade.

“A proteína Amblyomin-X não vem direto do carrapato em si: ela foi desenvolvida na forma recombinante em laboratório a partir da sequência de DNA extraída da glândula salivar do animal”, explicou a colaboradora do artigo e pesquisadora do Butantan em comunicado.

Essa proteína pode ajudar a desenvolver tratamentos e medicamentos futuros. Para isso, a equipe de cientistas brasileiros ainda busca estabelecer formulações que mantenham as moléculas estáveis para diferentes aplicações.

Testes preliminares já indicaram alguns resultados promissores contra células cancerosas. Além disso, partir de porções da proteína, foram produzidos diferentes peptídeos sintéticos que vêm sendo testados em modelos de inflamação e dor.

Testando a proteína
Até o momento, a Amblyomin-X teve efeito sobre a morte de diferentes linhagens de células cancerosas (especialmente as derivadas de tumores sólidos) e demonstrou uma redução de 60% nos nódulos metastáticos nos pulmões, rins e linfonodos em animais de pequeno porte. Em cavalos, o volume do tumor foi reduzido em 75%.

“Em animais saudáveis, a molécula é eliminada rapidamente pela urina. Já quando administrada em animais com câncer, ela age direto na região do tumor, sem afetar os tecidos saudáveis”, explicou Ramos.

Mesmo em doses mais elevadas, a proteína não apresenta toxicidade; mas a biomédica diz ser difícil obter moléculas específicas para células de câncer. “A maioria dos atuais tratamentos freia a divisão celular, atingindo não só as células tumorais, mas também as saudáveis. É por isso que há efeitos colaterais, como queda de cabelo e perda de massa muscular.”

Fonte: Revista GALILEU