Deslize para a direita, deslize para a esquerda, receba um super like, consiga um match. A fórmula dos aplicativos de relacionamento é direta ao ponto e muitas vezes resulta em um processo automatizado para os usuários. Existe alguma lógica por trás das escolhas feitas ao rejeitar ou demonstrar interesse nos perfis dispostos em exposição virtual? É isso que busca responder a pesquisa E aí, vai dar match?, desenvolvida pelo Laboratório de Evolução do Comportamento Humano (LECH) do Centro de Biociências (CB/UFRN). O estudo coleta percepções em questionário disponível até a sexta-feira, 17 de junho.
O estudo é elaborado por Elayne dos Santos, concluinte do curso de Ecologia, com orientação de Felipe Nalon Castro, professor e vice-coordenador do LECH. O objetivo principal gira em torno da identificação das percepções dos usuários sobre perfis em aplicativos de relacionamento. A análise leva em consideração dois fatores: autoapresentação seletiva, a forma como as pessoas falam sobre elas mesmas, e as informações de garantia, dados que solidificam a verdadeira identidade do usuário por trás das telas. Felipe coloca a importância dessa pesquisa no entendimento de estratégias comportamentais e impacto disso nas interações off-line ou presenciais.
“Será que nos comportamos de forma diferente no mundo digital? Com o avanço tecnológico, muitos relacionamentos tendem a iniciar no ambiente virtual ou as pessoas se conhecem inicialmente de forma presencial e buscam informações umas sobre as outras por meio de redes sociais de relacionamento. Gostaríamos de saber como são avaliadas as informações fornecidas nos perfis de relacionamento. Existem informações que são consideradas mais relevantes e confiáveis no momento da escolha de parceiros para relacionamento afetivo? Esses são alguns pontos que desejamos investigar”, explica o orientador.
Segundo Elayne, a escolha do tema do estudo foi motivada por uma falta de outros trabalhos que tratem da mesma ótica. A discente encontrou um estudo realizado em um aplicativo dos Estados Unidos e viu uma oportunidade de adaptá-lo ao panorama nacional. “Geralmente os estudos falam muito sobre qual o perfil ideal das pessoas, mas pouco sobre como as pessoas observam esse perfil. Existem muitos estudos sobre atratividade, características ideais de parceiro, o que a pessoa busca. Mas não sobre o que está lá disponível e qual a percepção das pessoas sobre aquilo”, conta a discente.
A metodologia da pesquisa consiste em aplicar exemplos de perfis fictícios no aplicativo Tinder, amplamente utilizado no Brasil como opção de aplicativo de relacionamento. Os perfis teriam diferentes características, como a ausência ou excesso de informações de garantia e complexidades diferentes na autoapresentação. O objetivo é buscar entender se as informações disponíveis nesses perfis geram um interesse maior em estabelecer um relacionamento com aquela pessoa. “Ao elaborarmos nossos perfis nos aplicativos de relacionamento, podemos passar diversos tipos de informação para os demais usuários. Algumas informações são verificáveis e trazem mais garantias, no entanto outros tipos de informação não podem ser confirmadas prontamente, como no caso de atitudes ou descrições mais gerais sobre nossos atributos. Buscamos investigar como essas diferentes informações contribuem para a avaliação da atratividade das pessoas”, conta Felipe.
O orientador ainda destaca que a esperança é de que com os dados da pesquisa, seja possível investigar diferenças no início do relacionamento entre faixas etárias, entre populações com diferentes orientações sexuais e as diferentes estratégias utilizadas por homens e mulheres no momento da escolha de parceiros. De forma complementar, o uso excessivo das redes também pode fornecer indicativos sobre a saúde mental. Para participar da pesquisa, basta ser universitário, ter mais de 18 anos e usar ou já ter feito o uso de aplicativos ou sites de relacionamento para a busca de parceiros.