Percepções artísticas sobre seu próprio corpo, sobre a cultura urbana marginalizada, sobre a identidade LGBTI+ e sobre as memórias em uma cidade de interior, são alguns dos caminhos que artistas visuais potiguares percorrem para construir quatro exposições online, selecionadas pela Lei Aldir Blanc, e que estarão disponíveis para acesso do público durante todo o ano de 2021. Com curadoria do Margem Hub de Fotografia, os fotógrafos Allana Rocha, Zé Lucas, Filipe Silva e Tambureti expõem trabalhos únicos que, apresentados digitalmente, visam ampliar o acesso do público apreciador de fotografia em um momento de fechamento das galerias e salas de exposição. A escolha dos quatro fotógrafos não se deu por acaso. Como em outros projetos realizados pelo Margem, a ideia com as quatro exposições é dar espaço para artistas visuais jovens e emergentes, potencializando a fotografia potiguar e nordestina.
“A lei Aldir Blanc precisa potencializar esses novos artistas, afinal o artista jovem ainda está se colocando no mercado de trabalho, e ainda não teve tantas oportunidades para expor e buscar experiências. É a partir do diálogo com esses novos artistas que a gente espera ampliar esse trabalho de produção cultural
que a Margem já realiza”, explica Paula Lima, responsável, junto com o fotógrafo João Oliveira, pela seleção dos trabalhos expostos. A oportunidade para trabalhar com o Margem na montagem da exposição “Síntese Urbana” é definida pelo fotógrafo Filipe Silva como “gratificante”. Ele já foi aluno dos cursos oferecidos pela escola de fotografia, e exprime bem com seu trabalho um olhar para manifestações artísticas e culturais marginalizadas, caso
do graffiti, pixo e o skate.
Em sintonia com o tom caótico que compõe o urbano, o artista investiga a cultura de rua no Rio Grande do Norte, juntando em seu trabalho elementos do movimento cultural cosmopolita com questões da juventude potiguar. No trabalho destaca-se um cotidiano natalense marginalizado, apresentado em 12 fotografias que conduzem a uma imersão na cena do skate e do grafitti na capital potiguar. Com a exposição, o artista quer mostrar pessoas que usam os espaços da cidade como suporte para realizar arte. “Quero levar percepção sobre a cultura urbana potiguar. O skate, o grafitte/pixo são elementos que sempre tive a percepção de estarem na mesma atmosfera. A cultura pertencente ao underground, ainda é mal vista e alvo de preconceitos. Levar o foco do projeto a essa cultura marginal é dar visibilidade a beleza existente nos elementos que muito passam despercebidos pelas pessoas”, afirma Filipe.
A exposição pode ser acessada em
https://www.michelangelofotos.com/sinteseurbana
Já na exposição Corpo-Abandono, o fotógrafo Zé Lucas usa de suas próprias experiências como homem gay para conduzir uma reflexão sobre o preconceito sofrido pelos corpos da população LGBTI+, aqui apresentados nus junto a cenários que remetem ao vazio, à aridez e ao abandono. Para o artista, os corpos nus ao mesmo tempo que carregam marcas da rejeição sofrida por essa população também expressam libertação desses estigmas. A exposição é composta por 12 imagens, nas fotos vemos um homem gay e uma mulher trans interagindo com uma piscina vazia e com um cenário rochoso de vegetação seca.
“Eu queria usar a minha arte para tratar de questões que me atravessam o tempo inteiro sendo um homem gay. A série fotográfica surge de inquietações em relação aos nossos corpos e o preconceito que sofremos diariamente. O próprio título já diz muito sobre isso, as locações dos dois ensaios da série trazem também a ideia do abandono. Primeiramente uma piscina desativada, onde nas imagens temos um corpo gay nu, largado no vazio. Nas imagens da segunda série fotográfica, por se tratar de um corpo trans no sertão do Seridó, foi usado como locação um cenário pedregoso com uma vegetação de cactos, que servem como uma metáfora de toda a rigidez que é ser LGBTI+ em uma cidade do interior potiguar”, explica o autor da exposição.
As fotos feitas por Zé Lucas estão disponíveis em
https://www.zelucas.com/exposi%C3%A7%C3%A3o-corpo-abandono
Um olhar afetivo e singular sobre Acari, no sertão potiguar, é o que propõe a fotógrafa Tambureti com sua exposição “Criou Raiz”. As cores fortes das paisagens áridas e elementos conhecidos da cultura sertaneja estão presentes nas imagens selecionadas para compor a exposição. A mensagem por trás das imagens de fachadas em cores vivas, da decoração junina, e dos efeitos da seca no sertão é uma busca pela valorização daquilo que é local, e muitas vezes renegado.
“Espero levar para o público a sensação de afeto, de apreciação e de pertencimento ao lugar onde vivo, tanto pras pessoas que fazem parte da população residente nesse lugar quanto para parcela dos meus seguidores que acompanham e apoiam meu trabalho de longe, fazendo com que sintam vontade de conhecer esse pedaço de chão, essas cores, essas particularidades”, explica a fotógrafa acariense.
“Criou Raiz” pode ser acessada pelo link
https://tambureti.myportfolio.com/work
Em plena pandemia, o uso da fotografia como escape para dias turbulentos levou a fotógrafa Allana Rocha a realizar experimentações ao fotografar partes do seu corpo, publicando esses trabalhos em redes sociais. A ideia era pensar a relação com o corpo durante um período de isolamento que leva, naturalmente, a um momento de maior intimidade consigo mesmo. Assim surgiu Casca: Corpo Continente em Autorretrato, com a proposta de um olhar, sem intermediários, para o que a artista considera uma “investigação do lugar que seu corpo ocupa.” A importância dos autorretratos para mim é de ocupar o nosso próprio corpo, da gente fazer uso do que a gente tem, tomando as rédeas da nossa própria apresentação. Não aceitando que outras pessoas digam o que o nosso corpo é, o que a gente é. Ocupando nossa própria existência enquanto corpo”, expõe a artista.
A exposição pode ser acessada através do link
https://allanarocha.com.br/portfolio/casca-corpocontinente-em-autorretrato/
As quatro exposições são patrocinadas, via Lei Aldir Blanc, pela Fundação José Augusto,
Governo do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e pelo Governo Federal.
