Liguei a TV no noticiário local e uma fala da secretária de Turismo do Rio Grande do Norte, Ana Maria Costa, me chamou a atenção. Ela comemorava a retomada das atividades do turismo ao mesmo tempo em que anunciava festas de Réveillon em Natal, Pipa e São Miguel do Gostoso. Alguns desses eventos com voos fretados e com grande procura, segundo ela. Preocupada, a repórter perguntava sobre os cuidados pois ainda estamos numa pandemia e como seria o controle desses eventos: haveria exigência de vacina e testes para os participantes dessas festas? A secretária justificou que o estado não poderia exigir isso pois eram “eventos particulares”.
Quem não lembra que no ano passado nós vivenciamos algo parecido? Tanto o estado, quanto os municípios, deixaram nas mãos dos empresários que fizeram literalmente a festa. Foi de gente sem máscara a exames falsos e muita aglomeração que resultou num crescimento dos números de casos de Covid-19.
Agora com a vacinação avançada parece que serve de desculpa para o “liberou geral” ser ainda maior. Vale lembrar que muitos desses festeiros vêm do sudeste do país onde a variante Delta do coronavírus preocupa e é dominante, infectando até mesmo quem já está imunizado com duas doses.
Como exemplo dos riscos que poderemos ter até o fim do ano, é importante lembrar da análise feita por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade do Estado de São Paulo (Unesp). De acordo com as duas universidades, a cidade de São Paulo deve sofrer uma nova explosão de casos de Covid-19 a partir de setembro por conta do avanço da variante delta do coronavírus. Os pesquisadores da plataforma Info Tracker afirmaram essa semana que “O epicentro da delta no Brasil hoje é o Rio. São Paulo, embora ainda não tenha tido aumento exacerbado, está neste caminho. A projeção estima que deve haver essa explosão a partir da segunda semana de setembro”, disse o professor da Unesp Wallace Casaca, um dos responsáveis pela Info Tracker. De acordo com o Ministério da Saúde, 41 óbitos foram confirmados para a Delta e 1.020 casos da variante foram identificados e notificados no país até o dia 16 de agosto.
Essa possibilidade de termos novas variantes circulando em nosso estado pode colocar todo o trabalho realizado na prevenção da Covid a perder numa simples festa de réveillon que, aliás, não tem nada de simples. São mega festas cheias de gente que podem pagar caro por shows, bebida e muita farra. A secretária de Turismo do RN, Ana Costa, disse na entrevista que o Estado não tem como intervir nas festas do fim do ano. Mas vejamos: na convivência em sociedade, quando um interesse particular coloca em risco a coletividade, qual é o interesse que deve ser defendido pelo Estado? Então, a secretária precisa pensar em quem ela representa e quais interesses ela representa: se o desses empresários ou dos cidadãos potiguares.
Alfa, Beta, Gama… vai ser uma festa com todas as letras do alfabeto grego se continuarmos negligenciando e vendendo a segurança sanitária dos potiguares em troca de migalhas. É esse o turismo que queremos e merecemos? É esse o preço que teremos que pagar de novo?