A Campanha Fevereiro Roxo busca conscientizar a população para que o Alzheimer, lúpus e a fibromialgia, doenças crônicas e incuráveis, sejam identificadas em sua fase inicial, para que seus sintomas sejam controlados ou retardados, a fim de propiciar uma melhor qualidade de vida aos pacientes acometidos por essas patologias.
“Apesar de serem distintas, essas doenças têm em comum o fato de não possuírem cura. Desse modo, o diagnóstico precoce e correto permite ao paciente que o tratamento seja feito de forma eficaz e segura, proporcionando-lhe bem-estar e qualidade de vida”, explicou Priscylla Miranda, coordenadora do Núcleo Ciclos de Vida da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece acompanhamento e tratamento para pacientes com Alzheimer, lúpus e fibromialgia, inclusive com a entrega de medicação. Diante da suspeita de uma das três doenças, as pessoas devem procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS), para se for o caso, serem encaminhadas a um especialista.
Lúpus
O Lúpus Eritematoso Sistêmico ou apenas lúpus é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune (o próprio organismo ataca órgãos e tecidos). Segundo o Ministério da Saúde, são reconhecidos dois tipos principais de lúpus: o cutâneo, que se manifesta apenas com manchas na pele (geralmente avermelhadas ou eritematosas e daí o nome lúpus eritematoso), principalmente nas áreas que ficam expostas à luz solar (rosto, orelhas, colo ou a parte em “V” do decote e nos braços) e o sistêmico, que acomete um ou mais órgãos internos.
Os sintomas são lesões de pele, sendo que as mais características são avermelhadas em maçãs do rosto e dorso do nariz; dor e inchaço, principalmente nas articulações das mãos; e inflamação no rim, pleura ou pericárdio (membranas que recobrem o pulmão e coração).
Em mais da metade dos casos, podem ocorrer alterações no sangue como diminuição de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, dos linfócitos ou de plaquetas. Inflamações no cérebro não são muito frequentes nos pacientes com lúpus, mas, quando ocorrem, podem causar convulsões, alterações do comportamento (psicose) ou do nível de consciência e até queixas sugestivas de comprometimento de nervos periféricos.
Na fase ativa da doença, são comuns queixas de febre sem ter infecção, emagrecimento e fraqueza, manifestações nos olhos, aumento do fígado, baço e gânglios.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico deve ser feito pelo conjunto de alterações clínicas e laboratoriais e não pela presença de apenas um exame ou uma manifestação clínica. O tratamento do lúpus é individual, pois depende da manifestação apresentada por cada um dos pacientes. Seu objetivo é permitir o controle da atividade da doença, a minimização dos efeitos colaterais dos medicamentos e uma boa qualidade de vida aos seus portadores.
Fibromialgia
A fibromialgia se caracteriza por dor muscular generalizada, crônica (dura mais que três meses), mas que não apresenta inflamação nos locais de dor. O sono não reparador (sono que não restaura a pessoa) e cansaço são alguns dos sinais típicos da doença. Pode haver também distúrbios do humor como ansiedade e depressão, e muitos pacientes queixam-se de alterações da concentração e de memória.
As causas da fibromialgia ainda não estão bem esclarecidas, mas a principal hipótese é que os pacientes apresentam uma alteração da percepção da sensação de dor. Isso é apoiado por estudos nos cérebros desses indivíduos em funcionamento, e também porque pacientes com fibromialgia desenvolvem sensibilidade do corpo, como no intestino ou na bexiga. Outras pessoas contraem a patologia após uma dor localizada mal tratada, um trauma físico ou uma doença grave. O sono alterado, os problemas de humor e concentração parecem ser causados pela dor crônica, e não ao contrário.
Segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a enfermidade afeta 2,5% da população mundial. A doença acomete mais mulheres do que homens, com idade entre 30 e 50 anos, embora existam pacientes mais jovens e mais velhos. No Brasil, a doença atinge em torno de sete milhões de pessoas.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da fibromialgia é clínico, com a história dos pacientes, exames físicos e laboratoriais. Não há alteração dos exames que indicam inflamação. Exames de imagem devem ser analisados com muito cuidado, pois nem sempre os achados da radiologia são a causa da dor do paciente. A fibromialgia pode aparecer em indivíduos que apresentam outras doenças reumáticas, como artrite reumatoide e lúpus, o que, muitas vezes, dificulta uma melhora desses pacientes.
A fibromialgia não traz deformidades ou sequelas nas articulações e músculos, mas os pacientes apresentam uma má qualidade de vida. Dessa forma, o objetivo do acompanhamento é aliviar os sintomas.
Os autocuidados do paciente com fibromialgia são mais importantes do que as medicações, embora elas também tenham seu papel. O principal tratamento é o exercício aeróbico, aquele que mexe o corpo todo e acelera os batimentos cardíacos, o que parece ser a melhor forma de reverter a sensibilidade à dor na fibromialgia.
Também é fundamental entender a doença e, em alguns casos, terapia psicológica pode ser útil, principalmente para aprender a lidar com a dor crônica no dia a dia. As medicações são úteis para diminuir a dor, melhorar o sono e a disposição do paciente, a fim de permitir a prática de exercícios físicos.
Doença de Alzheimer
A Demência de Alzheimer é a forma mais comum de demência, doença neurodegenerativa que acomete com maior frequência pessoas idosas. A causa é desconhecida, mas acredita-se que seja geneticamente determinada, além de fatores ambientais e de estilo de vida contribuírem para o seu aparecimento.
O Alzheimer costuma evoluir de forma lenta e progressiva. A doença instala-se quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central começa a ocorrer precariamente. Surgem, então, fragmentos de proteínas mal cortadas, tóxicas, dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles. Como consequência, ocorre perda progressiva de neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral, essencial para a linguagem e o raciocínio, memória, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato.
A falta de memória para fatos recentes, repetição da mesma pergunta várias vezes, dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais, irritabilidade, suspeição injustificada, agressividade, passividade, perda de interesse pelas atividades, perda da iniciativa, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos e tendência ao isolamento são alguns dos principais sintomas da doença de Alzheimer.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o Alzheimer afeta cerca de 35,6 milhões de pessoas em todo o mundo, número que deve dobrar em 2030. No Brasil, o cálculo da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) é de que 1,2 milhão já sofram os efeitos da neurodegeneração.
Para prevenir o desenvolvimento da demência, é necessário adotar hábitos de vida saudáveis ao longo da vida como: controle de doenças prévias (hipertensão, diabetes, obesidade, dislipidemias); combate ao sedentarismo, com a prática de atividade física regular; evitar o tabagismo; e praticar ações que estimulem a memória: leitura e novas tarefas.
Diagnóstico e tratamento
A partir do diagnóstico, a sobrevida média oscila entre 8 e 10 anos. O quadro clínico costuma ser dividido em quatro estágios: forma inicial, quando há alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais; forma moderada, que inclui dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos, agitação e insônia; forma grave, presença de resistência à execução de tarefas diárias, incontinência urinária e fecal, dificuldade para comer, deficiência motora progressiva; e fase terminal, quando há restrição ao leito, mutismo, dor à deglutição e infecções recorrentes.
O objetivo do tratamento para pacientes com Alzheimer é retardar a evolução e preservar por mais tempo possível as funções intelectuais e executivas. Os melhores resultados são obtidos quando o acompanhamento é iniciado nas fases mais precoces. Para avaliar a eficácia do tratamento, é fundamental que os familiares utilizem um diário para anotar a evolução dos sintomas. A memória está melhor? Os afazeres diários são cumpridos com mais facilidade? O quadro está estável? O declínio ocorre de forma mais lenta do que antes da medicação?
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza tratamento para a doença de Alzheimer por meio da Atenção Primária à Saúde (APS) e também pela Atenção Especializada, em especial pela Assistência Farmacêutica, além de disponibilizar Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas PCDT sobre a doença por meio da Portaria conjunta nº 13, de 28 de novembro de 2017.