Com 87,7% da população composta por negros, 10,2% mestiços e brancos e 2,3% de indígenas e localizado no coração de uma das regiões mais florestadas da Colômbia, às margens do Rio Atrato, está o município de Quibdó, capital do Departamento de Chocó, distante cerca de 633 quilômetros de Bogotá (Colômbia). Ao todo, 129.237 habitantes vivem na cidade, que possui riquezas sustentadas a partir da flora, da fauna, de recursos hídricos e minerais. Mas, em meio às belezas naturais, um grave problema preocupa a população do lugar: os casos de sífilis, principalmente em mulheres gestantes.
Em 2021, 105 novos casos da infecção em gestantes foram notificados, além de 19 casos de sífilis congênita, que é quando a mãe transmite a doença para o bebê durante a gestação ou no parto. Esses números chamaram a atenção de pesquisadores da Universidade Nacional da Colômbia (UNAL), que, após tomarem conhecimento sobre as ações do projeto Sífilis Não, fizeram o convite a pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN) para construir uma cooperação internacional, no sentido de desenvolver um trabalho inspirado na experiência brasileira.
O Sífilis Não é uma iniciativa realizada pelo Ministério da Saúde do Brasil em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o LAIS/UFRN. O projeto contribuiu, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico de 2021, com a redução, em 26,6%, nos casos de detecção de sífilis adquirida e, em 9,4%, nos registros de sífilis congênita em território brasileiro.
Segundo dados do Instituto Nacional de Saúde da Colômbia, no país, de 2016 a 2020, foram notificados mais de 8.700 casos de sífilis gestacional. Para o médico e professor titular do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da UNAL, Hernando Gaitán, que liderou a missão até Quibdó, a difícil realidade social encontrada no município e o preconceito por parte dos homens em se prevenir e realizar o tratamento, além da falta do acesso às informações de prevenção à doença, têm contribuído para o avanço de casos.
Já para a médica infectologista Mônica Bay, pesquisadora do LAIS/UFRN e que visitou várias unidades de saúde de Quibdó, a cidade tem profissionais comprometidos e está preparada para receber, diagnosticar e iniciar o tratamento dos pacientes com sífilis, mas é necessário conscientizar a população sobre a testagem rápida, garantir o acesso aos testes, estimular o uso de preservativos e aprimorar a gestão dos dados sobre a doença.
O secretário de Saúde de Quibdó, Jesús Delgado, conta que está ansioso pelo início da parceria entre as universidades colombiana e brasileira e espera que esse trabalho possa ajudar na redução dos casos e no controle de uma enfermidade que pode ser diagnosticada precocemente.
De 3 a 5 de novembro de 2021, os pesquisadores dos dois países participaram de uma agenda de atividades em Quibdó. Na programação, foram apresentados dados sobre a doença e informações sobre o trabalho executado no Brasil, além da escuta de propostas por parte de profissionais da saúde e representantes de organizações não governamentais para a construção de um projeto-piloto local que deverá ser compartilhado em toda a Colômbia, país que conta com mais de 50 milhões de habitantes. A expectativa é de que, até o primeiro semestre de 2022, as ações comecem a ser implementadas.