A Ponte de Igapó sempre foi motivo de fascínio e curiosidade por ser uma das grandes construções da virada do século XX. Erguida graças ao sonho de um brasileiro e à tecnologia de engenharia e técnicos ingleses, a ponte de ferro começou a ser construída em 1912 e entregue em 1916, como modelo e bases rigorosas para manter-se durável até hoje. Entretanto, por um erro de avaliação acabou sendo desativada e vendida como ferro-velho no início da década de 70. O equívoco tirou do cotidiano natalense uma das mais bonitas estruturas a interligar a zona Norte ao Centro. Toda essa saga, da construção aos dias de hoje, pode ser fielmente conhecida nesta biografia definitiva “A História da Ponte de Igapó”, do engenheiro, pesquisador e professor do IFRN, Manoel Fernandes de Negreiros Neto. O livro será lançado no dia 14 de julho, das 17h às 22h, no Iate Clube de Natal.
A obra editada pela Editora Appris reúne 25 anos de pesquisa do autor, busca de livros e documentos no exterior e até ida à sede da empresa Cleveland Bridge Company. Trata-se de uma investigação tão minuciosa que é considerada pelo autor como “quase arqueológica”. São 500 páginas recheadas de detalhes técnicos de engenharia civil centenária, fotos, plantas, cálculos, mapas, datas, fatos e episódios. Há lindos projetos originais e várias fotografias antigas, a maioria inéditas. A publicação foi organizada pelo autor em capítulos, alguns mais técnicos voltados para engenheiros, porém a maior parte é dedicada aos leitores em geral, que amam a História. “É um livro para quem gosta de História e mistérios”, adianta o autor, que foi a fundo em muitas questões elucidando alguns equívocos já divulgados por aí.
“Tudo começa em 1912, quando homens, máquinas e dinheiro da Primeira República brasileira, o projeto de um francês e a tecnologia inglesa, iniciaram a construção da primeira ponte sobre o rio Potengi em Natal, capital do Rio Grande do Norte”, conta o autor. De fato, a Potengi Bridge, ou como conhecemos popularmente a velha Ponte de Igapó, foi erguida numa velocidade de fazer inveja a muitas obras arquitetônicas atuais. Bastaram quatro anos para a imponente estrutura metálica de grandes treliças transpor o Potengi para se tornar um marco da engenharia até então.
A ponte foi uma empreitada do engenheiro brasileiro João Júlio Proença, construída pelos ingleses da Cleveland Bridge e projetada por um francês, o engenheiro Georges Imbault. Ou seja, um visionário chegou por aqui vindo de Minas Gerais para investir na região, elaborou um projeto detalhado, foi buscar dinheiro no governo e tecnologia lá fora. Se hoje a ponte de ferro é sucata na paisagem, ela foi no passado fundamental para o desenvolvimento da cidade e um modelo da pré-engenharia brasileira que começava a engatinhar. De passagem ferroviária passou a rodoferroviária até ser desmantelada na década de 70, quando então construíram a outra, de concreto.
FUTURO DA PONTE
O objetivo do livro é contar de forma mais fiel, a história desse monumento tombado pelo setor de patrimônio do Estado do Rio Grande do Norte. Assim como provocar um debate na busca de soluções para o futuro do monumento, que está ameaçado de cair. E, segundo o autor, contribuir com uma futura implantação da disciplina de História da Engenharia no currículo universitário. “Os arquitetos estão bem mais avançados pois existe uma cadeira de História no curso de Arquitetura. Já os engenheiros não têm esse privilégio. Costumo dizer que se existisse uma formação nessa área, os engenheiros do DNIT, na década de 70, não teriam tentado vender a ponte como ferro-velho”, disse o autor.
NARRATIVA
“A História da Ponte de Igapó” é repleta de detalhes. O autor conta que na inauguração, em 1916, “o maquinista Manoel Carnaúba perde a coragem de atravessar a ponte com os vagões carregados. Então, um amigo o afaga com uma boa dose de aguardente e logo ele se sente encorajado.Pronto! Deu tudo certo! Ponte inaugurada em 1916. Muita festa! Com a presença de Luís da Câmara Cascudo que vai se transformar no maior folclorista brasileiro.” Na parte da engenharia, o que ficou de mais enigmático foram as fundações profundas em tubulões executados a ar comprimido. “Uma técnica desenvolvida em 1910 pela cleveland bridge engineering company. Como um concreto submerso em águas salgadas do potengi resistiu de 1912 até hoje?” O autor pesquisou e encontrou a causa.
A ideia de escrever o livro surgiu na década de 1990. “Trabalhei na construção dos galpões para o Grupo Guararapes em Extremoz e passava pela ponte diariamente. Ficava admirado com os detalhes, os arcos, rebites e pilares. É uma obra maravilhosa para qualquer engenheiro, e eu decidi que queria saber mais”, conta. E ao se deparar com as informações poucas e desencontradas, decidiu iniciar sua própria pesquisa. “Foi algo que beirou a obsessão. Mas uma obsessão boa. Sou um engenheiro civil com espírito de historiador, acabei me tornando um investigador no processo, foram várias descobertas”, contou o autor.
MINIATURAS
Para contribuir com o autor na edição da obra, feita com recursos próprios, Manoel Negreiros preparou kits com miniaturas da ponte e de equipamentos que ele conhece muito bem, como a betoneira. Negreiros é especialista em concreto, vale lembrar. Os kits, assim como o livro, estão em pré-venda e quem quiser adquirir deve entrar em contato com o autor, pelo site www.manoelnegreiros.com ou pelo whatsapp.
O primeiro kit é a treliça Pratt para montar, em escala 1/87 compatível com trens escala HO. Ponte em MDF, com 61 cm representando um vão de 50 metros. A treliça Pratt, o modelo adotado em 1912 na ponte velha de Igapó, impõe grande rigidez ao vão. Isso é notado após a montagem desse modelo. Na cor de madeira vemos os passadiços para pedestres em ambos os lados, uma batalha do senador Eloy de Souza. Acompanha Manual de Montagem na caixa.
Já o segundo kit é uma Betoneira a vapor de 1912 e uma barrica de cimento. Essa betoneira movida a vapor foi utilizada para se confeccionar o concreto utilizado nas fundações tipo Pneumatic well de 6,00 m de diâmetro, com 10/12 m de profundidades e nos retângulos em forma de double do que emergia do fundo do rio até a cota de apoio das treliças metálicas – conforme é demonstrado nos projetos no livro “A História da Ponte de Igapó”.
SOBRE O AUTOR
Manoel Fernandes de Negreiros Neto é engenheiro civil, mestre em estruturas e construção civil pela UFRN. Tem especialização em gestão de negócios pela UFRN e avaliações e perícias de engenharias pela FAL. Professor do IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Escritor.
SERVIÇO
Lançamento do livro “A História da Ponte de Igapó”, de Manoel Fernandes de Negreiros Neto”. Dia 14 de junho, das 17h às 22h, no Iate Clube de Natal.
500 páginas, Editora Appris
Preço: R$ 175,00
50 kits de miniaturas também serão comercializados . Contatos com o autor: 84 9982-1658