Lula: “Bolsonaro deu cidadania à extrema direita”

Por El País

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Garanhuns, 1945) diz viver um momento de paz e que não há vestígios de mágoas por ter cumprido prisão entre abril de 2018 e novembro de 2019, condenado por corrupção no caso do triplex do Guarujá. “Ódio dá azia e não deixa dormir”, diz ele, durante a conversa de 1h30 ao vivo por videoconferência com o EL PAÍS, que ele mesmo não queria interromper. Deixou claro, no entanto, que anular suas condenações na Justiça e reaver os direitos políticos ―inclusive para ser um nome na disputa em 2022― seguem no topo de sua agenda.

Foi o Lula de sempre, chamando os interlocutores pelo nome, e com as memórias vivas de seu tempo na presidência (2003-2010). “Obrigado, Carla. Obrigado, Flávia. Do fundo do coração, obrigado. Quando precisarem de alguém pra conversar, conversa solta…”, disse ele ao se despedir. Elegante num paletó que ganhou de presente de Evo Morales, não lembra o homem que falou com este jornal em abril de 2019, quando ainda estava preso. Tinha raiva e tristeza por sentir-se injustiçado e por ter perdido seu irmão Vavá e o neto Arthur, enquanto cumpria pena na sede da Polícia Federal em Curitiba. Nesta conversa, estava feliz de poder defender o legado do Partido dos Trabalhadores como cabo eleitoral dos candidatos petistas nas eleições municipais ―ainda que apenas virtualmente, por causa do coronavírus. “Pense num homem que tem motivação de viver”, diz ele, que está confinado fugindo da covid-19 desde 12 de março. Outra razão o motiva: ter encontrado o amor de novo com Rosângela, ou Janja, com quem deseja se casar assim que a pandemia acabar. “Deus é muito generoso comigo”, diz.