Micropartículas com o peptídeo AC2-26, elaborado a partir de uma proteína sintetizada pelo corpo humano, a anexina A1, reduziram a inflamação e os sintomas de Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) em camundongos, ajudando a recuperar os tecidos do intestino, apontam testes feitos por pesquisadores da USP e do Hospital Israelita Albert Einstein. As micropartículas, feitas de silício e reforçada com polímeros, permitem que a molécula chegue ao intestino sem perder seus efeitos, substituindo a administração de medicamentos por injeção, considerada mais invasiva para os pacientes. As conclusões da pesquisa são relatadas em artigo publicado na revista International Journal of Nanomedicine.
As DIIs são doenças crônicas caracterizadas pela presença recorrente de inflamação no trato gastrointestinal, em especial no intestino grosso. “As mais comuns são a doença de Crohn e retocolite ulcerativa”, apontam Milena Broering, que pesquisou o tratamento em sua tese de doutorado, e a professora Sandra Farsky, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, orientadora do trabalho. “Sua origem ainda não é totalmente conhecida, mas pode estar ligada a características do sistema imune associadas à genética, à exposição a fatores ambientais, medicamentos, alimentos e hábitos que alteram a microbiota intestinal, deixando-as com perfil mais agressivo, ou seja, capaz de atacar a parede do intestino e iniciar a inflamação”.
“Essas doenças não têm cura e os medicamentos somente diminuem a inflamação, tentando manter os pacientes fora das crises. Os principais sintomas são diarreia e emagrecimento”, relatam as pesquisadoras. “Os pacientes têm risco significativo de desenvolvimento de câncer colorretal e implicações sociais consideráveis decorrentes da situação debilitante enfrentada pelo doente. A incidência é de 9,6 por 100 mil pessoas, enquanto a prevalência no Brasil é de 0,1% da população. O número de pacientes tem aumentado mundialmente, e a doença também atinge os jovens”.De acordo com Milena Broering e Sandra Farsky, as terapias atuais para as DIIs podem ser divididas em diferentes classes, porém a mais eficaz para o tratamento e o controle são os medicamentos biológicos. “Eles são anticorpos que atuam diretamente sobre alguns mediadores inflamatórios. No caso das DIIs, um dos alvos é o fator de necrose tumoral alfa (TNFa), produzido por células do sistema imune e que propaga a resposta inflamatória. Se há o bloqueio deste mediador, a inflamação tende a diminuir”, explicam. “Hoje eles são a melhor opção para quem tem DII, porém muitos pacientes desenvolvem resistência aos anticorpos e alguns não respondem às opções disponíveis, além de apresentarem reações de infusão, pois são administrados por via endovenosa (injeção). E são medicamentos de alto custo, o que onera os serviços de saúde pública”.