Pesquisadoras do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP puderam analisar, através da observação de 40 recém-nascidos prematuros internados em duas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), que o ambiente tem influência nos níveis de estresse destes bebês. Como consequência, o neurodesenvolvimento deles também é afetado.
Bebês prematuros são aqueles que nasceram antes de 37 semanas de gestação e têm a UTIN como um ambiente essencial para seu desenvolvimento inicial. “O bebê sai do ambiente de desenvolvimento ideal, que é o intraútero, e passa para uma UTI. Por mais que esse novo ambiente seja para garantir a vida desses bebês, ele tem mais características estressoras do que promotoras de um melhor desenvolvimento”, explica Nathália de Figueiredo, pesquisadora e primeira autora do artigo.
Procedimentos dolorosos, toques, luminosidade, barulho e até mesmo a gravidade são mudanças sentidas por um bebê ao sair do útero, e que podem gerar estresse. Mas, ao contrário da forma como os adultos demonstram estresse – mais voltada às emoções e comportamentos –, em bebês ele acontece de forma fisiológica, refletida em comportamentos motores e no estado de atenção, com sinais como bocejos, soluços, tremores, caretas, sustos, postura tensa e sono agitado.
De acordo com a pesquisadora, a exposição ao estresse tem consequências físicas, como maior risco para lesões neurológicas causadas, por exemplo, por hemorragias, além de afetar a capacidade de autorregulação emocional e comportamental, aumentando o risco para o desenvolvimento de transtornos do desenvolvimento. “Nós percebemos que a UTIN do HC Criança, que foi uma UTI construída pensando no desenvolvimento do bebê, contribui para que o bebê tenha mais regulação. E o contrário foi verdadeiro, a UTIN do HC era um ambiente mais estressor”, diz Figueiredo.
O estudo comparou, através da observação e aplicação de protocolos, os recém-nascidos durante sua primeira semana de vida. A diferença entre os dois grupos de bebês prematuros era o ambiente. O primeiro grupo estava no prédio do Hospital das Clínicas da FMRP, com um ambiente amplo e compartilhado, modelo conhecido como sala aberta. Já o segundo grupo estava no HC Criança, também da FMRP, com uma estrutura pensada para o atendimento individualizado, no modelo de quarto familiar individual. A comparação foi possível porque a UTI do HC estava sendo transferida para o prédio do HC Criança.