Durante séculos, sonhar foi como assistir a um filme sem controle remoto. Mas existe uma exceção: os sonhos lúcidos. Neles, a pessoa percebe que está sonhando e, às vezes, interfere no enredo. Uma equipe com 18 cientistas internacionais, entre eles Sidarta Ribeiro e Sérgio Mota-Rolim, do Instituto do Cérebro (ICe/UFRN), decidiu investigar o que acontece no cérebro nesse momento raro. O grupo reuniu dados elétricos coletados durante o sono, registrados em pesquisas conduzidas na Holanda, Alemanha, Suíça, Itália, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil. O estudo, publicado na JNeurosci, analisou 43 sessões com 26 participantes que sabiam identificar o instante de lucidez em seus sonhos.
Os cientistas localizaram os rastros da consciência durante o sono. Quando o cérebro “acorda” dentro do sonho, a atividade elétrica muda de padrão. As conexões entre áreas distantes se intensificam, como se diferentes setores de uma cidade passassem a se falar por linhas diretas. As faixas de frequência alfa (entre 8 e 12 hertz) e gama baixa (de 30 a 36 hertz) ganharam força em termos de conectividade.
Já a atividade beta (de 12 a 30 hertz), que regula percepção e movimento, diminui em certas áreas do hemisfério direito, especialmente nas regiões ligadas à noção do corpo. No instante em que a pessoa percebe que está sonhando, uma área chamada precuneus fica mais ativa — essa região é fundamental para a memória e a autoconsciência. Comparado ao estado de vigília, o cérebro lúcido desacelera sua atividade elétrica em boa parte do espectro, variando entre 8,78 e 45 hertz. Em outras palavras, o sonho lúcido parece ter sua própria assinatura cerebral distinta.
Fonte: https://www.ufrn.br/imprensa/reportagens-e-saberes/90385/desvendando-o-sono