O senador Styvenson Valentim (PSDB-RN) protagonizou nos últimos meses um espetáculo de autopromoção digno de roteiro de reality show. Em vídeos produzidos com efeitos de cinema, ele se apresentava como o grande “construtor de hospitais” do Rio Grande do Norte, como se, sozinho, estivesse erguendo paredes e assentando tijolos com as próprias mãos. A plateia, no caso, os eleitores, aplaudia. Até que o cenário ruiu ele tentou “emendar”.
A verdade veio à tona: nenhuma das suas emendas foi para construção. Todas eram de custeio — ou seja, para pagar contas de luz, salários e materiais de hospitais filantrópicos que já existiam. Styvenson não construiu nada e nem poderia com tais emendas por expressa vedação legal. Apenas repassou dinheiro público, como todo parlamentar faz, mas com uma diferença crucial. Ele mentiu descaradamente sobre a finalidade do recurso.
O caso escancara uma prática perversa na política: a transformação de obrigações em marketing pessoal. Styvenson não apenas omitiu a verdade como *criou uma ficção na qual ele era o herói solitário da saúde potiguar. Usou linguagem messiânica — “Ninguém fez em 500 anos, eu fiz” — para vender uma imagem que não correspondia à realidade.
Quando desmascarado, sua reação foi ainda mais reveladora. Em vez de pedir desculpas, tentou justificar o injustificável, dizendo que “custeio e construção são a mesma coisa”. Não são. E ele sabe disso. Um hospital não nasce de contas pagas, mas de investimento em infraestrutura.
Além da mentira, há um problema ético gravíssimo: o uso de dinheiro público para fins eleitoreiros. As emendas não são moeda de troca para inflar egos. São recursos que deveriam ser divulgados com transparência, sem distorções.
O Art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa (8.429/1992) é claro: “Constitui ato de improbidade qualquer ação ou omissão que viole os princípios da administração pública”, incluindo a imoralidade política. Styvenson pode não ter desviado um centavo, mas desviou a verdade, e isso é igualmente grave. Cabe ao Ministério Público apurar a conduta do parlamentar.
O que aumenta o desconforto é também a hipocrisia da atitude constatada a partir desse episódio. Afinal, Styvenson se dizia “diferente”, um outsider que não compactuava com as velhas artimanhas do poder. Agora, revelou-se pior que os políticos que criticava. Pelo menos os tradicionais não fingiam ser o que não eram.
O que esperar de um parlamentar que, ao invés de assumir o erro, ri da própria fraude e ainda ataca críticos? Se houver um resquício de decência na política potiguar, esse episódio servirá de alerta: o eleitor não é trouxa. A casa caiu. E, desta vez, não tem emenda que conserte.