Há alguns meses, surgiu um estudo que indicava que se deveria utilizar uma linguagem neutra naquilo que está relacionado com a maternidade, escrito e partilhado pela “Academy of Breastfeeding Medicine”, uma organização mundial de médicos que se dedicam à promoção, proteção e apoio do aleitamento materno. Esse estudo foi colocado em prática em alguns países, como o Reino Unido e a Austrália, mas, mais recentemente, surgiu um outro que aponta para uma direção contrária e que diz que essa mesma linguagem pode ser prejudicial.
Para muitas mulheres, a gravidez é, sem dúvida, algo difícil de colocar em palavras. Sente-se e, apesar de ser mais fácil ou difícil para muitas mulheres, tudo vale a pena, sobretudo, quando o bebé nasce. No entanto, a linguagem utilizada durante a gravidez e durante os primeiros meses e anos de vida de uma criança, em certos países, é posta em causa.
Nos dias que correm, a utilização de uma linguagem neutra, com o objetivo de não ferir suscetibilidades e de incluir todos aqueles que se sentem minorizados ou discriminados, está cada vez mais em cima da mesa. No entanto, essa importância não deve passar por cima da língua e não deve colocar em causa necessidades individuais.
Isto prende-se com o facto de, no ano passado, o Serviço Nacional de Saúde britânico ter implementado uma “linguagem inclusiva em termos de género”, onde se substitiu “amamentação” por “alimentação ao peito”, “leite materno” por “leite humano” e ainda “mães” por “pessoas grávidas” ou “pessoas lactantes”.
Só que esta alteração, que deveria ter sido utilizada para ser sensível às necessidades individuais e ser mais inclusiva, acabou por produzir efeitos contrários e consequências para as mulheres e para as crianças. Um estudo realizado por 10 investigadoras de saúde da Austrália, Estados Unidos, Europa e Ásia chegaram à conclusão que a substituição de palavras por frases neutras reduz o “vínculo mãe-bebé” e prejudica a amamentação.
O relatório obtido pelo jornal “Sydney Morning Herald” assegura que as investigadoras acreditam que as mudanças de certas palavras possam ser mais inclusivas, mas, no final do dia, tem um efeito oposto ao esperado, uma vez que as mães que, efetivamente, geram vida e são “casa” de um ser durante nove meses veem-se discriminadas. E isto é dito por uma co-autora deste novo estudo, que argumenta que “confundir a ideia de identidade de género e a realidade do sexo arrisca consequências adversas para a saúde e uma discriminação mais profunda e insidiosa contra as mulheres”. A esta ideia, a mesma co-autora acrescenta que “sexo [uma categoria reprodutiva], género [um papel social], e identidade de género [um sentido interior de si] não são sinónimos, mas estão a ser tratados como se o fossem.”
Esta discussão já vai longa e não é de agora. Um pouco por todo o mundo, tem-se debatido a utilização de uma linguagem neutra em termos de género. Na Austrália, por exemplo, o governo admitiu que iria utilizar uma linguagem neutra nas suas comunicações, com o objetivo de respeitar todos os cidadãos. No entanto, no que toca à maternidade, a utilização de linguagem neutra acaba, em muitos casos, por desumanizar a mulher. E, por isso, alguns porta-vozes transexuais assumiram que a inclusão pode ser conseguida sem apagar o termo “mulheres”.
A advogada e co-fundadora da Transgender Victoria – uma organização que promove a equidade, a saúde e serviços comunitários para pessoas transexuais, na Austrália -, Sally Goldner, disse que era possível representar “as pessoas que dão à luz e alimentam bebés, incluindo os de diversas origens culturais e linguísticas, que também podem necessitar de informação personalizada.”