Nova pesquisa da UFRN mostra que o câncer do colo do útero, bem como os associados à infecção, atinge as classes mais vulneráveis da sociedade. De acordo com o trabalho, a população negra é a que mais sofre com as maiores taxas de mortalidade, reafirmando o abismo da desigualdade e do racismo estrutural presentes no Brasil. Com o título Mortes por câncer do colo do útero: um reflexo do racismo estrutural, o artigo é mais um trabalho do Observatório do Nordeste para Análises Sociodemográficas (ONAS), coordenado por pesquisadores do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA/UFRN).
O câncer do colo do útero é uma neoplasia caracterizada pelo aumento do número de células malignas nessa região, com chances de diagnóstico precoce por meio do exame preventivo ginecológico. Essa análise, com eficácia e efetividade comprovadas, permite que a doença seja descoberta em fase inicial, passível de cura. O problema é que, apesar de evitável, a patologia permanece atingindo mulheres negras com baixo poder aquisitivo e precário acesso aos serviços de saúde.
De acordo com o artigo, as taxas de câncer do colo do útero no Brasil permanecem altas e refletem na morte de mulheres negras e residentes em locais com os piores indicadores socioeconômicos. Entre 2000 e 2019, foi observada uma média de mais de sete óbitos pela doença a cada 100 mil mulheres com 20 anos ou mais. Na escala regional, as regiões Norte e Nordeste enfrentam a pior situação, trazendo a neoplasia como a segunda doença mais recorrente entre pessoas do sexo feminino. Por sua vez, o Sul e Sudeste carregam os menores índices de mortalidade.
As disparidades regionais revelam que a incidência da patologia é mais grave em regiões e países com menor desenvolvimento social e econômico. O resultado disso é a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e diagnósticos tardios, retirando das comunidades carentes a chance de tratamento precoce. Observando os anos de 2000 a 2019, a taxa por câncer do corpo do útero de porção não especificada, com possibilidade de diagnóstico apenas em fase avançada, é elevada em todos os períodos nas regiões Norte e Nordeste. A relação é um indicador da insuficiência da assistência à mulher nessas localidades.
Fonte: UFRN