Pesquisa destaca perigo dos alimentos industrializados para crianças

Quem costuma ir ao mercado já percebeu as inúmeras prateleiras repletas de produtos destinados à alimentação infantil. São purês, sopinhas, iogurtes, papinhas, biscoitos, enfim, uma variedade de opções que seduzem as mamães pela praticidade no preparo e pela qualidade nutricional que prometem. Mas, segundo a pesquisa Nutritional adequacy of commercial food products targeted at 0-36-month-old children: a study in Brazil and Portugal, a maior parte desses alimentos industrializados pode prejudicar a saúde das crianças.

O estudo foi realizado por pesquisadores do Brasil e de Portugal, publicado no British Journal of Nutrition, e resulta da tese defendida na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação do Porto (FCNAUP-Portugal) por Célia Regina Barbosa, nutricionista servidora do Departamento de Nutrição (Dnut) do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRN). O trabalho buscou avaliar, nesses dois países, o valor nutricional de alimentos processados destinados a crianças de até três anos, tendo como referência o Modelo de Perfil Nutricional de Alimentos da Organização Panamericana de Saúde (Opas), que estabelece critérios de classificação para nutrientes considerados críticos como açúcar, sódio, gordura total e gordura saturada.

No total, foram avaliados 171 produtos alimentares, sendo 123 em Portugal e 48 no Brasil. Os dados da pesquisa mostram que boa parte desses alimentos não atendem aos parâmetros da Opas. Para se ter uma ideia, das 15 refeições à base de carne ou peixe disponíveis no Brasil, 60% ultrapassaram a quantidade de sódio e todas ultrapassaram a meta de gordura total. Em Portugal, 82% dos purês de fruta e vegetais e 67% dos sumos, batizados, chás e bebidas analizados ultrapassaram o nível de açúcar livre, enquanto a gordura saturada foi excessiva em todos os iogurtes avaliados.

Segundo Célia Regina, os dados da pesquisa alertam para a necessidade de monitoramento da composição nutricional dos alimentos e de eventual reformulação dos seus valores, com redução do consumo de sal, açúcares e gorduras. “Grande parte dos alimentos industrializados destinados à faixa etária estudada possuem uma composição nutricional não saudável, ou seja, são desfavoráveis para a saúde das crianças”, disse. Para ela, melhorar o perfil nutricional desses alimentos poderia permitir alcançar os objetivos globais da Organização Mundial de Saúde (OMS) relacionados à prevenção e ao controle da obesidade infantil e de doenças crônicas não transmissíveis como a diabetes e a hipertensão.

Dados dessa pesquisa também foram divulgados no Congresso Brasileiro de Nutrição (Conabran) realizado neste mês. O trabalho obteve o segundo lugar entre os classificados. Além de Célia Regina, participaram da realização desse estudo Pedro Moreira (orientador da pesquisa e professor da FCNAUP); Patrícia Padrão (coorientadora da pesquisa e professora da FCNAUP); Inês Lança de Morais (nutricionista da OMS); João Joaquim Breda (professor FCNAUP e conselheiro da OMS); Karla Danielly Ribeiro (professora do DNUT/CCS/UFRN); K.F. Rocha (egressa do Programa Pós-graduação em Nutrição – PGNUT/CCS/UFRN); e B.R. Carneiro (egressa do curso de graduação em Nutrição do CCS/UFRN). LEIA NO PORTA UFRN.