Pesquisa historiográfica mostra como a ciência impulsionou a economia cafeeira no Brasil e resgata disputa sobre os culpados pela propagação da broca do café

Perto de completar o três séculos de sua introdução no Brasil, em 1727, uma das bebidas mais consumidas no mundo tem muita história para ser contada, seja do ponto de vista econômico, social, cultural, científico e/ou político. Sob o olhar da historiografia, uma pesquisa da USP voltou aos anos de 1887 para mostrar como a ciência produzida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que à época foi criado pelo imperador Dom Pedro II, potencializou a produtividade dos cafezais paulista, possibilitando a conexão do Brasil à dinâmica de uma nova ordem econômica capitalista. O estudo se baseou na análise de boletins, jornais, relatórios e documentos referentes à gestão dos principais diretores da instituição, sendo um deles acusado pelo envolvimento em “querelas” científicas acerca da propagação da broca do café (Stephanoderes coffeae) que devastou muitas lavouras paulistas.

O estudo abrangeu os ciclos de desenvolvimento da economia brasileira, entre os anos de 1887 e 1924, quando o Estado de São Paulo era o centro econômico do País. O IAC foi criado por demanda de uma elite dos produtores rurais do estado, que na época lidavam com problemas relacionados ao esgotamento do solo decorrentes da extensiva modificação do meio natural para atender a produção de monocultura do café, e a pela disseminação de pragas que atacavam os cafezais – a ferrugem e a broca do café, as mais temidas. Paralelamente, lideranças políticas brasileiras pautadas pelo que acontecia na Europa e nos Estados Unidos almejavam que o Brasil também participasse dessa nova ordem econômica capitalista, relata a pesquisa. Neste contexto, a criação de uma instituição científica que subsidiasse pesquisas agrícolas parecia ser o caminho para aproveitar a oportunidade, como mostra um discurso do ministro da agricultura Manuel Buarque de Macedo (1880/1881). “[…] não é só e crédito, porém, que a lavoura carece, mas de braços, de instrução profissional, e de vias de comunicação, terrestres e fluviais…”

A pesquisa deu origem à tese Ciência para o café: o Instituto Agronômico e a ciência aplicada ao desenvolvimento da economia cafeeira (1887-1924), defendida pelo historiador Moisés Stahl, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sob orientação do professor Lélio Luís de Oliveira, da Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEARP) da USP. Moisés Stahl é especialista em história econômica e autor do livro Louis Couty e o Império do Brasil, da editora UFABC.

Os documentos analisados pela pesquisa são de um período em que o IAC esteve sob a administração dos diretores Franz W. Dafert, Gustavo D’Utra, Max Passon e Jean-Jules Arthaud-Berthet.

Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/cafe-com-ciencia-uma-mistura-que-fez-o-cafe-brasileiro-ser-referencia-no-mundo/

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