Pesquisadores da UFRN criam aplicativo de monitoramento de pesca

Inovação, organização e monitoramento da atividade pesqueira sustentável. Essa é a promessa do aplicativo Shiny4SelfReport (SSR), criado pelos cientistas Eurico Mesquita Noleto-Filho, Adriana Rosa Carvalho e Ronaldo Angelini, da UFRN, e pelo pesquisador Jeroen Steenbeek, da Ecopath International Initiative. A nova tecnologia, disponível gratuitamente, é capaz de coletar e monitorar os dados de pesca, tais como quantidade, preço por quilo e quantos dias o pescador precisou ficar no mar. As informações são fornecidas pelos próprios usuários, sejam pescadores ou pesquisadores.

O aplicativo melhora a montagem de dados sobre a pesca artesanal, fornece envolvimento dos pescadores e pode aumentar o conhecimento dessa cultura em todo o mundo. Além de ser gratuita e de código aberto, a tecnologia é intuitiva, com fotos e descrição dos animais. Para criar essa novidade, os pesquisadores receberam o apoio do Triatlas, projeto financiado pela União Europeia e por mais de 40 instituições europeias, africanas e brasileiras, incluindo a UFRN.

Embora pensado para monitorar os dados da atividade pesqueira, o SSR permite que outras informações sejam estudadas. Em Cabo Verde, na África, os trabalhadores utilizam a aplicação para reportar suas capturas. Já no Brasil, no estado do Ceará, os pescadores relatam a invasão do peixe-leão. Usada em Baía Formosa, no RN, desde 2021, a tecnologia também chegou, no ano passado, a outras regiões.

Em artigo científico, publicado em 2021 na Science Direct, os pesquisadores mostraram que a coleta e a organização de dados são necessárias em muitas áreas do conhecimento, assim como nas administrações públicas e privadas. Em relação ao meio ambiente e à pesca, o grupo entende ser crucial a existência dos dados de monitoramento de longo prazo para compreender se a captura de determinadas espécies é ou não sustentável.

Segundo Eurico Noleto-Filho, é possível ajustar a ferramenta para diversas atividades econômicas, como extrativas, aquáticas ou terrestres. No próprio aplicativo, há uma opção para personalizá-lo. “Nós colocamos uma função que permite ao usuário adaptar o app a todo tipo de coleta de informações sem necessidade de saber a linguagem de programação que foi usada, no caso, a linguagem R. Essa característica e o fato de ele ser grátis, com código aberto, são uma inovação, pois aplicativos similares de coleta de dados são geralmente pagos e com alto custo de manutenção”, explica.

Especificamente para a pesca, continua Eurico, a equipe pretende desenvolver o SSR com o uso de Inteligência Artificial (IA). “Assim, o pescador tira uma foto do pescado, e o aplicativo pode identificar a espécie e determinar o peso e o comprimento do peixe”,  afirma.

As informações enviadas são guardadas na nuvem da própria conta do usuário. “Outra vantagem do aplicativo é que ele permite ao pesquisador e aos atores, monitorar em tempo real a entrada de dados, pois estes são enviados para a nuvem de acesso exclusivo dos interessados”, complementa Adriana Rosa Carvalho.