Um intervalo mais longo entre as duas doses da vacina da Pfizer-Biontech contra a covid-19 leva a níveis gerais de anticorpos mais altos do que um intervalo mais curto, constatou um estudo britânico na sexta-feira (23/07). Os pesquisadores ressaltam, porém, que um maior espaçamento implica também uma queda acentuada nos níveis de anticorpos após a primeira dose.
“Oito semanas é provavelmente o ponto ideal”, disse a professora da Universidade de Oxford Susanna Dunachie, que lidera o estudo. O cálculo leva em conta a busca de um equilíbrio entre vacinar o maior número de pessoas o mais rápido possível, sem comprometer os níveis gerais de anticorpos produzidos.
Para o estudo, foram recrutados 503 profissionais de saúde, dos quais 223 (44%) já haviam tido covid-19.
A pesquisa analisou a resposta imunológica à vacina da Pfizer-Biontech variando de um intervalo de dosagem de três a dez semanas. Embora ambos os esquemas de dosagem tenham gerado uma forte proteção contra a covid-19, o intervalo mais longo se mostrou ainda mais eficaz.
Os níveis de anticorpos neutralizantes foram duas vezes mais altos com o intervalo de dez semanas do que com o intervalo de três semanas, incluindo contra delta e todas as outras variantes testadas. O regime mais prolongado também melhorou a resposta das células T auxiliares, que suportam a memória imunológica.
Menor imunidade no período entre doses
Os autores do estudo, porém, chamaram a atenção para a redução dos níveis de anticorpos após a primeira dose no caso de espaçamentos maiores.
“No cronograma mais longo, os níveis de anticorpos caíram entre a primeira e a segunda dose, o que incluiu a perda de qualquer efeito neutralizante contra a variante delta”, disse Rebecca Payne, pesquisadora da Universidade de Newcastle, que também participou do estudo. “No entanto, as respostas das células T foram consistentes, indicando que elas podem contribuir para uma proteção importante contra a covid-19 durante o período.”
Acredita-se que os anticorpos neutralizantes desempenhem um papel importante na imunidade contra o coronavírus, embora não sejam os únicos, com as células T tendo também sua relevância.
É importante ressaltar que estudos no mundo todo têm demonstrado que ambos os esquemas de dosagens, curtas ou longas, levam a uma forte proteção contra a covid-19, enfatizando a importância de se obter uma segunda dose da vacina.
“Nosso estudo fornece evidências tranquilizadoras de que ambos os esquemas de dosagem geram respostas imunes robustas contra o vírus após duas doses”, disse Payne, da Universidade de Newcastle.
Em busca da melhor estratégia
As conclusões dos pesquisadores podem ajudar as autoridades a determinar as estratégias de vacinação contra a variante delta, que tem se mostrado mais resistente a uma primeira dose, embora o efeito protetor ainda seja observado após a segunda.
O Reino Unido, por exemplo, estendeu em dezembro o intervalo entre vacinações para 12 semanas, embora a Pfizer tenha alertado que não havia evidências sobre a eficácia de alterar o espaçamento original de três semanas.
Já hoje os britânicos recomendam um intervalo de oito semanas entre as doses, a fim de permitir que mais pessoas tenham alta proteção contra a variante delta mais rapidamente, e ainda maximizando a resposta imunológica a longo prazo.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda um intervalo de 12 semanas entre a primeira e a segunda dose da vacina da Pfizer-Biontech. Segundo o órgão, tal espaçamento garante uma efetividade de mais de 80% do imunizante. Como base, a pasta cita um estudo conduzido também no Reino Unido, que mostrou que o nível de anticorpos gerados em idosos com mais de 80 anos 12 semanas após a aplicação da segunda dose foi três vezes maior do que no intervalo de três semanas.
Fonte: DW Brasil