Confesso que relutei um pouco em escrever sobre o caso da vereadora de Natal. Primeiro pelo fato de o blog evitar fofocas provincianas. Não investi anos da minha formação em jornalismo com diploma e construí minha credibilidade para noticiar sobre “quem come quem ou quem traiu quem”. Me nego a tal desserviço. No entanto, quando a vereadora levou o assunto para o plenário da Câmara Municipal de Natal e da forma como o fez, me levou a escrever – e até de forma didática – para falar um pouco sobre crise de imagem e, principalmente, sobre o que não fazer num momento de crise como esse. Acreditem: será um exemplo didático.
A parlamentar Camila Araújo abordou no plenário nesta semana um boato que circulava em blogs e até em alguns grupos de WhatsApp sobre sua vida pessoal, atraindo mais holofotes para o caso ao invés de resolver a situação longe dos microfones.
Ela errou feio. Errou rude ao misturar sua vida profissional e política, pessoal e até religiosa num discurso emocionado que espalhou uma suspeita que circulava numa bolha. Agora todos sabem quem é a vereadora e o marido dela citados na fofoca.
Para piorar a situação, a vereadora deu um testemunho na tribuna da Câmara assumindo “Fui roqueira, metaleira e maconheira; passada na casca do alho”. É verdade que ela repete isso em cultos e não é novidade, mas faz parte do rito de igrejas evangélicas tais declarações mostrando que a vida mudou após conversão cristã. Mas será que cabe tal declaração na tribuna da Câmara ou isso só piora a situação, criando uma outra crise ao invés de resolver a que já se tinha?
Ao invés de alimentar novas especulações, o ideal é reforçar a confiança por meio de ações concretas no mandato, deixando os críticos isolados no vazio das acusações infundadas. Contra-atacar com ataques tende a ser contraproducente, elevando o tom e os ânimos desnecessariamente. O risco é passar a impressão de que os boatos estão perturbando o dia a dia, entrando na armadilha dos que os propagaram.
Manter a compostura, mesmo diante da tentativa de paralisia pela difamação, é sinal de credibilidade e permite manter o foco no essencial. Cabe à Justiça, nos limites da lei, checar eventuais ofensas no que foi divulgado.
Por outro lado, dar abertura a especulações sobre a vida pessoal também afasta o foco do trabalho político e o debate público merece ser travado com base no histórico e nas ideias, não no passado alheio.
Tomara que a vereadora consiga tirar alguma lição disso tudo e, de graça, vou deixar algumas sugestões do que fazer numa situação de crise:
- Não trazer o assunto à tona para fora da bolha, ainda mais no plenário da Câmara que não é lugar pra isso, evitando aumentar a proporção do caso.
- Não fazer ataques generalizados a quem questionou sua atuação.
- Abordar o assunto de forma privada com as autoridades competentes caso considere que houve crime. Teve calúnia ou difamação é na justiça que se busca reparação. Até rimou.
- Evitar comentários sobre sua vida pessoal passada. Ao fazer isso só dá mais munição para ataques.
- Pedir apoio sem agredir setores ideológicos, inclusive dos próprios colegas evangélicos que já vão olhar para ela e o marido com “um meio torto” nos cultos.
Manter a serenidade, evitar comentários desnecessários, buscar respostas legais e concentrar esforços no trabalho prometido é o ideal em crises, principalmente em ano de eleição. Ou alguém duvida que a crise de imagem poderá afetar o resultado nas urnas da vereadora?
Daniel Censoni - Advogado.
Perfeitas colocações.
Não se dá trela para disse me disse e fofoca.
Quando o ofendido é figura pública e responde também publicamente, quem não sabia da fofoca passa a saber e via de regra adota como verdade, o que for menos vantajoso para o ofendido.
É conhecido Efeito Streisand.
Há coisas que, quando muito, se trata apenas no Poder Judiciário.