Professor do Centro de Biociências da UFRN analisa práticas científicas transparentes e colaborativas

Ciência Aberta é o termo que denomina as práticas que visam promover transparência e colaboração nas informações divulgadas cientificamente por meio de pesquisas. John Fontenele, docente do Departamento de Fisiologia e Comportamento do Centro de Biociências (CB/UFRN) e do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia (Psicob/UFRN), discute o tema no artigo Ciência aberta: é possível um debate desapaixonado?

O texto aborda a discussão sobre a implementação da Ciência Aberta no Brasil, e destaca uma publicação do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), professor Ricardo Galvão, e da diretora do CNPq Débora Menezes. Na análise, os estudiosos enfatizam a necessidade de tratar as particularidades das condições de trabalho dos pesquisadores brasileiros. Também analisam as abordagens específicas de diferentes áreas do conhecimento. Entre os pontos levantados, estão os custos diretos associados às pesquisas, como taxas de processamento de artigos e a manutenção de repositórios de dados científicos.

John Fontenele Araújo acredita que o debate sobre Ciência Aberta dentro do CNPq ainda é tímido. Para ele, a discussão frequentemente começa com a apresentação de dificuldades, em vez de possíveis estratégias de implementação. “Apesar disso, reconheço que o CNPq tem feito algumas iniciativas importantes, como a apresentação do Plano de Dados Abertos em 2023. Além disso, algumas chamadas do Conselho já exigem que os proponentes apresentem um Plano de Gestão de Dados, que é um dos critérios de avaliação das propostas”, comenta o professor.

O docente da UFRN sugere que o CNPq adote uma postura mais proativa, promovendo práticas científicas transparentes e colaborativas, e destaca a importância de um debate equilibrado que considere tanto os desafios quanto as oportunidades da Ciência Aberta no Brasil.

Fontenele comenta ainda sobre os desafios relacionados ao compartilhamento de dados e aos repositórios que armazenam estudos científicos. “Os diretores do CNPq apontam essa questão como uma das facetas mais difíceis da Ciência Aberta. Embora o desafio seja real, muitos pesquisadores brasileiros já utilizam dados de repositórios digitais nacionais e internacionais”, avalia. 

Entre os repositórios nacionais consolidados, o pesquisador destaca as plataformas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). “No portal do Instituto, é possível acessar ferramentas como o Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra), que permite a extração de tabelas e dados estatísticos personalizados, e o Banco de Dados Agregados (BDIA), um repositório de microdados agregados das pesquisas do instituto”, destaca.

Já o DataSUS coleta, processa e disponibiliza dados sobre saúde pública no Brasil. A plataforma é utilizada por pesquisadores e profissionais da área de saúde e para pesquisas científicas. “Provavelmente, muitos projetos financiados pelo CNPq utilizam dados do IBGE e do DataSUS. No entanto, qual é a extensão desse uso? Será que a comunidade científica brasileira aproveita plenamente esses repositórios? Sugiro que o CNPq avalie o uso desses bancos de dados em projetos financiados pela agência”, avalia.

Outras sugestões de Fontenele são incluir campos específicos nos formulários da plataforma Carlos Chagas e no currículo Lattes, sendo ambas bases de dados on-line do Conselho. “Além disso, o CNPq, a Capes  [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e os programas de pós-graduação poderiam promover o uso dos dados disponíveis nessas bases, incentivando análises científicas que contribuam para o desenvolvimento do Brasil”, enfatiza.